Alecrim Dourado

Alecrim, alecrim dourado

Que nasceu no campo

Sem ser semeado

 

Joana estava muito empolgada com a viagem que faria junto de seus melhores amigos. Ela, Marina e Adriano, planejavam ir a São Raimundo Nonato com o objetivo de conhecer o Parque Nacional da Serra da Capivara. O local é considerado patrimônio mundial da Unesco e, além de uma paisagem sem igual, possui o maior e mais antigo sítio pré-histórico das Américas. Seria incrível estar cara a cara com as marcas deixadas há mais de 6 mil anos pelos ancestrais da humanidade!

 

A empolgação dos três não era de igual medida. Joana sempre se interessou por história e arqueologia, mas os outros dois, apesar de acharem tudo isso muito interessante também, possuíam outras paixões. Foi apenas no intuito de agradar a amiga que planejaram esse passeio, seria muito legal ver as pinturas rupestres, de qualquer modo.

 

Fazia mais de um ano que os três não se viam porque a amante do passado humano fazia faculdade em outro estado. Devido a isso, por muito tempo, o trio acabou virando uma dupla. Mesmo com as ligações constantes, eles sentiam saudades de Joana e tão logo ela formou-se convidaram-na para a viagem, já paga pelos dois amigos.

 

A história desse trio, porém, continha algumas camadas a mais. Eles bem poderiam ter ganhado uns versinhos na Quadrilha de Drummond, porque era óbvio para qualquer um de fora que Marina amava Adriano, que amava Joana, que não amava ninguém. Os fofoqueiros de plantão só ficavam pensando de onde viria o J. Pinto Fernandes.

 

Mesmo a relação dos três sendo constantemente interesse público, ninguém nunca quis se intrometer. Afinal, a amizade do trio era muito forte e não merecia ser estragada por causa de uma bobagem dessas. Mas era cômico ver Marina dando muitos sinais de seu interesse em Adriano e ele nunca percebendo. Além dos vários foras que ele levava de Joana, ao insistir em saírem juntos romanticamente.

 

Essas eram as circunstâncias antes da partida de Joana e, ingenuamente, eram as circunstâncias que ela esperava encontrar depois do seu retorno. Mas logo notou uma drástica diferença no tratamento recebido de Adriano, será que ele finalmente a havia superado?

 

Quando viu os dois no saguão junto de sua mãe, ela ficou imensamente feliz. Inconscientemente, já esperava algum galanteio e foi surpreendida. Não houve nenhuma diferença de tratamento entre os dois amigos, a mulher chegou até a ficar incomodada de tão acostumada que estava com o jeito de ser do companheiro. Era claro o amor que Adriano sentia por Joana. Afinal, eram amigos. Só que apaixonado, ela suspeitava que ele não estava mais.

 

A viagem para São Raimundo Nonato foi tranquila e os três chegaram cheios de ânimo no aeroporto da cidade. Mal chegaram ao hotel e já queriam visitar o parque. Quando estudaram melhor o local para planejar o tempo, enfeitiçaram-se pelos atrativos e nem o cansaço foi capaz de deixá-los no quarto.

 

Não demorou para estarem dentro do parque já com um guia. Joana simplesmente apaixonou-se pelo local imediatamente e parava para escutar cada história sobre a descoberta das pinturas e criação do parque. Cada explicação sobre as cores e as épocas era absorvida com um prazer enorme. Com certeza, foi um passeio incrível.

 

A mulher percebeu o enorme silêncio que seus amigos faziam. Imaginava que estariam tão concentrados e encantados quanto ela, porém logo viu os dois mais atrás parecendo estar em um mundo paralelo. Então, ela entendeu tudo, e precisava admitir que foi uma ótima notícia. Só não imaginava porque não tinham contado nada ainda.

 

Foi meu amor

Que me disse assim

Que a flor do campo é o alecrim

 

Ao chegar no hotel, ela encurralou Adriano. Queria ouvir da boca dele as palavras tão esperadas.

 

— Por que vocês não me contaram a boa nova? — perguntou Joana, insinuadora.

 

— Que boa nova? A surpresa era só a viagem mesmo. — respondeu confuso.

 

— Ah, nem vem que não tem! Eu sei que você e a Marina estão namorando. — Sorriu triunfante.

 

— Não estamos. — disse sincero. — Eu gosto é de você.

 

Percebendo que não havia fofoca nenhuma para ela escavar, Joana sentou em sua cama e ligou para a mãe, com o intuito de contar sobre o quão maravilhoso o passeio para a Serra da Capivara tinha sido. Enquanto isso, Adriano também foi meditar em seu cantinho. De onde Joana tirou aquela hipótese? Será que ele gostava mesmo da Marina, e ela, dele? Como não percebeu antes, sem uma terceira pessoa dar palpite?

 

Adriano parecia desperto pela primeira vez quando voltou ao parque no dia seguinte. Parecia mais alegre, mais vivo, mais decidido. Quando Marina percebeu como ele olhava para si, nem teve tempo de ficar nervosa. A intensidade era tão forte que parecia presa no lugar.

 

O homem não sabia como nunca percebeu a joia rara que sempre esteve ao seu lado durante tanto tempo. Possuía todas as virtudes daquela que tinha a ilusão de amar e, ainda, um brilho próprio que Joana não parecia ter mais.

 

Seu jeito atrapalhado de ser ficava cada vez mais encantador. Seus esboços de roupas, os quais fazia para a faculdade de moda, pareciam cada vez mais perfeitos. Tudo que ela fazia parecia especial para Adriano. Ele sentia seu peito esquentar-se só pela visão dela, a presença da garota era como uma grande fogueira aconchegante. Só não sabia como não tinha reparado antes nas chamas, que naquele momento percebia serem ainda mais fortes do que as de Joana.