Caminho

Eu não tenho pra quem voltar.

O cigarro apagado no cinzeiro em cima da mesa, ao lado do copo de cerveja, parece debochar de mim. Quase escuto ele me perguntando porque não o terminei. Eu tinha prometido pra ela que ia parar.

Mas agora, não tem mais ela.

Meu coração dói. Passo as mãos pelos meus cabelos em desespero. Estou desesperado. Vejo as pessoas rindo na calçada do bar e aceno para o garçom quando ele me pergunta se quero mais um litrão.

Eu deveria ir pra casa.

As coisas dela estão lá. Seu perfume na minha penteadeira, a escova de dentes extra no meu banheiro, e até sua fronha em um dos meus travesseiros. Ela não gostava das minhas, queria algo florido e cheio de vida, que contrastava com toda a minha decoração "sem graça".

Porra, ela me deixou.

Mal percebo quando a garrafa que o garçom trouxe acaba. Ele pergunta se quero mais uma, mas eu nego e peço a conta. Pego meu celular do bolso e enquanto caminho vagarosamente pela calçada, vou rolando a tela em busca de algum contato. Desvio das pessoas que andam na direção oposta e desisto de achar alguém com quem conversar.

Estupidamente sozinho.

Meus pés me levam para o meu prédio.

Meus dedos apertam os botões do elevador.

Destrancam a minha porta.

Penso em ir até o quarto, ou tomar um banho, mas a nossa foto ao lado da tv me chama e eu me sento na poltrona com a moldura em mãos.

Acabou então. Preciso retroceder, voltar para um tempo onde ainda não a tinha, e então seguir novamente em outra rota.

Mas, merda, eu nem lembro a porcaria do caminho.

Bianca Gonçalves
Enviado por Bianca Gonçalves em 09/02/2023
Código do texto: T7715639
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