O Piano

Seus braços estavam ao meu redor, mãos sobre as minhas. Casualmente, você demonstrava os movimentos corretos, uma paciência reservada apenas para mim. Mas tudo o que eu conseguia me concentrar, era no calor emanando do seu corpo, no seu cheiro ao meu redor, inebriante e viciante. Eu poderia reconhecê-lo em qualquer lugar, sem sequer olhar, apenas sentir a sua presença em um cômodo era o suficiente para mim.

Tão distraída por você, não percebi que estava debruçada sobre o piano até ouvir sua risada. É maravilhoso a maneira como você sempre parece me achar encantadora, mesmo quando estou desarrumada e atrasada ou quando me permito perder em pensamentos e acabo esquecendo-me das conversas ao redor. Você sempre me fez sentir amada.

Contudo, eu não esperava perdê-lo tão dolorosamente. Não esperava que chegaria o momento em que eu diria que é o nosso fim. Mas ele chegou, afiado e mortal como a ponta de uma adaga. Cortou-me em pedaços, de modo que fosse impossível juntar novamente.

Agora, o piano está coberto de pó e lembranças, os cômodos estão assombrados pela sua lembrança, e meu coração lamenta pelo amor que jamais sentirá outra vez.

Eliza Braga
Enviado por Eliza Braga em 02/02/2023
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