Amores Indizíveis

Tomás chegou em sua cidade natal depois de tantos anos. Mudou dali com sua família quando tinha dezenove anos e estava no momento com trinta e cinco.

Agora voltava a convite do seu amigo de infância, Felipe, que reencontrara há algum tempo nas redes sociais. Conversavam sempre e relembravam os velhos tempos.

Programaram uns dias na casa do campo de Felipe. Ele estava chegando para aquelas férias e estava muito entusiasmado.

Não sabia como seria o reencontro, mas estava achando que seria muito bom, afinal eles foram amigos inseparáveis por muitos anos. Tomás era solteiro e sabia que Felipe estava casado. Mas sabia que Zeca, um outro amigo de infância, que também era solteiro, estava convidado para as férias. Com certeza seria uma festa este reencontro.

Quando ele chegou ao local Felipe e sua esposa Vitória o receberam. Luísa, prima de Vitória, e Zeca também estavam lá.

O reencontro foi caloroso, como se nunca tivessem se separado.

Ele foi apresentado a Vitória e ficou encantado com a beleza e simpatia dela.

Tomás logo se sentiu à vontade e pensou que a idéia de se reencontrarem foi ótima.

Conversavam e riam muito. Vitória e Luísa pareciam se divertir com as histórias.

Tomás e Vitória trocavam olhares que o deixava desconfortável, mas não podia evitar.

No sábado a antiga turma de escola deles se reuniu no sítio num agradável encontro.

À noite Tomás não conseguia dormir. A emoção do reencontro com tantos amigos o deixara agitado e o sono acabou fugindo. Pensava em Vitória que estava no quarto ao lado com o marido.

Saiu do quarto e sentou-se na sala escura. Pelo vidro da janela olhava a lua e tentava relaxar. Pouco depois ouviu um barulho e sorrateiramente se esgueirou pra ver o que era. Viu que Felipe e Luísa estavam ali no corredor. Eles se abraçavam e viu quando se beijaram e entraram no quarto dela.

Ele não acreditava no que estava vendo. Felipe estava traindo Vitória. Pensava se era um caso antigo ou se era apenas um sexo casual.

Ele dormiu mal e nem sabia o que fazer com o que viu na noite anterior. Achou melhor não fazer nada, ficar quieto. Afinal não tinha nada que se meter nesta trama, apesar de estar sentindo uma grande atração por Vitória.

Mais tarde eles estavam na piscina. Luísa e Felipe estavam conversando dentro da piscina e Tomás e Vitória tomavam sol. Zeca estava ocupado com outras coisas.

-Você e sua prima são muito amigas?

-Sim. Ela é minha melhor amiga e minha confidente. Está sempre conosco. Ela e Zeca sempre vêm com a gente.

-Ela tem alguma coisa com Zeca?

-Não. Já tentei aproximá-los e não deu certo. São só amigos. Você está interessado nela?

-Não. Você sabe que não. (olhando fixamente para ela)

Ela ficou perturbada e mudou de assunto:

-E você? Por que nunca se casou?

-Não aconteceu. Não apareceu a pessoa certa.

-Se aparecesse você se casaria.

-Pode ser que sim.

Eles passaram uma semana agradável. Tomás e Vitória ficaram muito próximos e isto o incomodava, além do mal estar que sentia por saber do caso de Felipe e Luísa.

Por fim ele voltou pra casa. Pensava em Vitória, mas evitava entrar em contato com ela. Não queria alimentar a atração que sentiam.

Mas Vitória começou a procurá-lo. Conversava com ele nas redes sociais e por telefone.

Numa conversa ele disse:

-Por que eu não conheci você antes? Pensar que me sinto atraído e apaixonado pela esposa de meu amigo me deixa mal.

-Também não gosto desta situação, mas não paro de pensar em você. Parece inevitável.

-Você ama seu marido? É feliz?

-Pensei que amava até conhecer você.

-Ele me pareceu um tanto frio em relação a você e muitas vezes até grosseiro. Fiquei incomodado com o jeito dele tratá-la. Não é assim que se trata uma mulher.

-Ele é um pouco estranho e tem ficado pior com o tempo.

-Imagino.

-Como imagina?

-Você não acha que ele e sua prima Luísa são muito próximos? Ela não desgruda dele.

Ela ficou pensativa.

-Você acha que rola alguma coisa entre os dois além de amizade?

-Não acho nada. Se a amizade dos dois não lhe incomoda…

-Ela é minha melhor amiga e é minha prima. Você sabe de alguma coisa pra fazer uma insinuação tão grave?

-Não sei de nada.

Mudou de assunto.

Vitória não acreditava que sua prima um dia a trairia. Começou a observar o comportamento dos dois e uma desconfiança começou a atormentá-la.

Numa noite que estavam no sítio ela ficou à espreita. Fingiu dormir e quando Felipe se levantou e saiu do quarto ela foi atrás. Viu quando ele abraçou, beijou Luísa e entraram no quarto. Ela ficou ali escutando. Não queria fazer escândalo.

No dia seguinte, já em casa ela o confrontou:

-Felipe, desde quando você me trai?

-O quê? Do que você está falando?

-Quero saber desde quando você me trai com a Luísa? Provavelmente há muito tempo, não é? Você sempre faz questão de chamá-la para nossa casa. Pensava que era pra me agradar, mas pelo que vejo é pra se satisfazer com ela.

-Você está louca. De onde tirou esta idéia absurda?

-Ninguém me contou, eu vi.

-Viu o quê?

-Vocês dois ontem lá no quarto dela. E parece que com ela você é bem mais ardente e entusiasmado que comigo. Só fico me perguntando qual dos dois é mais falso e cínico. Meu marido ou minha melhor amiga?

-Eu amo você, Vitória. Ela fica me tentando, me provocando. Eu juro pra você que foram poucas vezes.

-Poucas ou muitas vezes não faz a menor diferença. É uma traição sórdida. Eu confiava cegamente em vocês dois e recebo em troca esta traição abominável. Muitas vezes debaixo do nosso teto. Eu não vou perdoar nunca esta traição repugnante e covarde. Nunca, entendeu? Eu quero o divórcio.

-Vitória, eu prometo que nunca mais vou me aproximar dela. Você sabe o quanto eu amo você.

-Quem ama não trai. Você nunca me mereceu.

Ela saiu e o deixou falando sozinho.

No dia seguinte ela foi até a casa de Luísa.

Entrou como um furacão.

-Luísa, sua vagabunda, me traindo dentro de minha casa. Como pôde ser tão rasteira assim? Eu confiava na sua amizade e você se deita com meu marido no quarto ao lado do meu.

Os pais dela ficaram horrorizados. Ela respondeu:

-Não sei do que você está falando.

-Você se faz de boa moça, de santinha, de amiga. Desde quando você transa com meu marido?

-Você está louca.

-Eu vi você indo pra cama com meu marido dentro da minha casa. Você não vale nada. Eu devia lhe dar uma lição, marcar este rostinho de santinha, mas não vou sujar minhas mãos numa pessoa tão vulgar como você. Mas eu vou contar ao mundo que a santinha não passa de uma ordinária que trai a amiga bem debaixo do seu nariz.

-Traí mesmo, eu sempre gostei dele. Você que se colocou no meu caminho. Você é uma sonsa por nunca ter desconfiado.

-Pois fique com ele. Vocês se merecem.

Virou e foi embora.

Ela se divorciou.

Felipe jamais assumiu Luísa, que apaixonada que era, sentiu na pele o erro que cometeu e que ele estava com ela simplesmente pelo prazer de trair e sentir que era o bom, o conquistador. Apesar de se merecerem ele nunca mais quis saber dela.

Tomás e Vitória começaram a namorar e ela percebeu que seu marido nunca a mereceu e que só agora encontrara um homem de verdade. Sentia que se apaixonariam, que seria para sempre e que haveria respeito, amor, cumplicidade e reciprocidade o suficiente para uma vida.

O reencontro dos amigos mudou a vida deles e cada um teve o que verdadeiramente merecia.

Amores surgindo. Amizades estremecidas. Vida que segue…

Nádia Gonçalves
Enviado por Nádia Gonçalves em 23/01/2023
Reeditado em 23/01/2023
Código do texto: T7702503
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