A rifa
A rifa
Toca a campainha.
-Tá esperando alguém?
-Sim, um amigo.
-Que amigo?
-Já volto.
[…]
-Pronto, aqui está!
-Qual era o teu amigo?
-Que achou da cesta?
-Legal. Tu que comprou?
-Sim, dele.
-Que lindo. Ai, que meigo…
-Não. Ganhei numa rifa.
-Bom, então: que sorte!
-Capaz, comprei dele.
-Comprou ou foi rifa?
-Comprei.
-E por que disse que era rifa?
-Porque era.
-Aí vem tu com essas enrolações…
-Foi rifa. De “Dia dos namorados”. Ele postou na internet.
-Olha, que chique.
-Não adianta dizer que comprei, porque mais tarde tu iria ver que é rifa.
-E por que não dizer que é rifa? Qual é o problema?
-Pois então, não tem problema. É que na verdade eu comprei. Mas pedi que ele dissesse que era rifa.
-Por…?
-Pra você acreditar.
-Você não fica menos homem porque comprou pra mim. Isso é romântico. É fofo…
-Coisa de homem sentimental. Eu sou macho. Ogro. Grosso. Másculo…
-E top, top, top… Já vem com esse papinho de sempre… Olha, assim tu tá tirando todo o romantismo…
-Caras como eu só compram rifa. Essas datas de Dia dos Namorados e tal são feitas para as mulheres…
-Tá, boa noite.
-Ué, onde tu vai?
-Vou deitar. É linda a cesta que tu comprou. Aliás, ganhou na rifa. Ou sei lá. Vou deitar que tô cansada e tá tarde.
-São nove da noite!
Ela entrando no quarto. Ele chegou logo em seguida.
-E a nossa noite dos namorados?
-Ah… era só essa a tua intenção, né? Já quebrou o clima, tá. Boa noite.
-Te falo sempre pra fechar as portas do guarda-roupas. Que mulher desorganizada. Que saco!
-Amanhã arrumo.
-E isso aqui no teu armário? Deixa ver… Quem te deu essa caixa em forma de coração?
-Ganhei numa rifa.
Virou para o lado e dormiu.