Coração de Inverno I
Por baixo da máscara madura, escondia a crença que adquirira quando infante. Era um fiapo de esperança tão frágil que o menor contato com o oxigênio de nossa superfície o quebraria como dedos a desfazer as sedas de uma aranha. Por isso ela o conservava na substância imortalizante dos sonhos.
Um sonho encharcado em lágrimas noturnas, do qual víria ele, o homem de pele azeviche, cujo rosto estava sempre envolto de brumas, vestido em um traje invernal de elevada posição e montado num cavalo cor de gelo. Seu peito ostentava broches e medalhas de incontáveis guerras vencidas, exceto a beligerante busca por quem roubara o amor de sua vida.
Desde então, o príncipe e o feiticeiro que habitavam em si, todas as noites se dirigiam ao salão hexa especular. Lá, encontravam-se os seis espelhos de gelo que eram como janelas para os vastos reinos multiversais. A tarefa de encontrar uma forma única e não replicável num caleidoscópio teria sido mais fácil do que encontrar sua alma gêmea, mas ainda assim, o príncipe da neve cantava para as gélidas lâminas de cristal, na esperança que em algum lugar alguém ressoasse consonância com suas dores e respondesse o seu chamado.