COISAS DO AMOR (Conto)

 

  Eu tinha apenas 15 anos e Eliomar 14 quando ensaiamos um namorico, porém fomos chamados a atenção pela mãe dela que achava que não era apropriado na idade da gente. Realmente naquele tempo, nos idos de 1965, isso não era bem aceito pelos pais e a gente ouvia muito o termo "vá tirar a catinga do mijo". No entanto a gente não deixou de lado a nossa amizade, continuamos como amiguinhos que moravam vizinhos, porém sob forte vigilância, só que nas horas de descuido a gente se abraçava e se beijava tendo o maior cuidado para não sermos surpreendidos.

   O tempo passou e eu finalmente completei dezoito anos, ela estava com dezessete, momento em que a mãe dela permitiu o nosso namoro, mas a vigilância permaneceu severa, mas não nos preocupávamos com isso, aproveitávamos mais os descuidos dela, como sempre fazíamos desde os últimos três anos. A ordem era namorar na sala ou no terraço, nas vistas da senhora mãe de Eliomar. Não éramos mais crianças, mas enfrentamos essa barra em nome do amor que nós nutríamos um pelo outro.

   Quando completei vinte anos, já trabalhando em uma loja comercial de um tio meu, resolvemos noivar. Eliomar já era de maior e trabalhava, era funcionária de uma loja de tecidos, a noite ela fazia Magistério e passamos dois anos usando aliança na mão direita. Dois anos depois nos casamos, tanto no civil como na igreja, posso afirmar que a festa de casamento foi linda e fomos morar em uma casa alugada próximo da minha sogra, pois ela era muito apegada a filha.

Decorridos cinco anos de casamento conseguimos comprar a nossa casa própria com ajuda do meu tio, já tínhamos dois filhos, um casal, éramos felizes, mas enfrentamos um grande problema, a mãe dela interferia muito no nosso relacionamento e com isso acabávamos brigando. Havíamos comprado uma casa ao lado da casa da minha sogra, esse foi o meu grande erro. Enfrentamos essa situação por um bom tempo até eu não agüentar mais e sugeri a minha esposa alugarmos a nossa casa e irmos morar longe, porém Eliomar não aceitou, o que me fez sair de casa e ir morar com meus pais, já que a casa era grande e meu quarto continuava lá intacto. Via meus filhos com bastante freqüência, até que nossas vidas mudaram, eu arranjei outra pessoa para viver e ela foi morar com outro homem e tudo terminou assim, nos separamos e cada um foi viver sua vida.

Dez anos se passaram, depois que conheci Fátima minha vida não teve muita empolgação, pois meu pensamento estava em Eliomar, eu não conseguia esquecê-la, mas aceitei essa situação. Eu já tinha dois filhos com a nova companheira e na terceira geração Fátima teve um sério problema no parto e faleceu na maternidade mesmo. Foi muito triste, pois já estava muito acostumado com ela.

Os dias se passaram com rapidez, quando dei fé já fazia um ano da morte de Fátima. Voltei para a casa dos meus pais e os dois filhos ficaram com a mãe da falecida por pedido dela. Continuei minha vida sozinho e prometi a mim mesmo não gostar de mais ninguém. Me divertia muito pouco, num desses meus momentos de lazer procurei um barzinho afastado da cidade e que ficava a beira mar, estava tranqüilamente tomando uma cerveja quando senti u'a mão pousar em meu ombro, me virei surpreso e vi que era Eliomar. Seu sorriso me encantou, me fez voltar ao passado. Ela sentou-se ao meu lado e começamos a conversar. Falou que estava viúva e que tinha também prometido não gostar de mais ninguém, mas quando soube da morte da minha companheira mudou de ideia. Reatamos a nossa união e fomos morar em nossa casa que estava alugada mas foi desocupada. Contou-me também que sua mãe havia falecido fazia dois meses. Senti pela antiga sogra, lamentamos também pela nossa separação, poderíamos perfeitamente ter conversado com mais sensibilidade e talvez nunca teríamos nos separado, mas o destino se encarregou de juntar nossas vidas.

Moacir Rodrigues
Enviado por Moacir Rodrigues em 03/01/2023
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