Doce lembrança.
Hoje, o vento quente de verão,me trouxe uma doce lembrança de minha mãe.Senti que ela me amava muito, desde sempre,apesar de todos os problemas que tinha e da grande prole a ser cuidada na época.
Me lembro que era verão,estava quente naqueles dois comodos onde morávamos.Naquela época pobre era pobre mesmo e a garra pela vida,nos fazia aproveitar tudo o que tínhamos.
Não estou choramingando,foi graças a isso que cheguei até aqui.
Na escola o sarampo assustava,todos os dias crianças eram acometidas da doença,na época gravíssima, por não haver vacinas,eu não escapei da maledita.
Pra complicar veio junto a broncopneumonia e a coisa ficou feia.
Coisa de Deus, criança aceita e não sente a gravidade.
A febre tomava meu corpo me deixando sonolenta.Minha mãe,sem recursos fez todos os remédios que conhecia e os recomendados pelas avós do bairro,até cocô de cachorro numa mistura de chás me deu rs.Mas eu só piorava e meus olhos foram tomados pelo sarampo,me deixando cega.
Minha mãe era pequenina e magra,morávamos longe da Santa Casa,carro era raro,então,ela me carregou no colo até o socorro,eu tinha uns 9 anos,a febre me deixava pesada,imagino o que ela passou.
Quando estávamos chegando perto da Santa Casa, um senhor veio em seu auxílio,mamãe chorava por mim e pela impotência de não poder me tirar a dor.
Eu me lembro de momentos como se fossem quadros, me via suspensa observando tudo.
Me carregaram na maca e fizeram os procedimentos médicos,fiquei um tempo sob observação,tomando medicamentos.
A gente não tinha providencia,a enfermaria estava cheia,me mandaram pra casa com uma receita que minha mãe nem imaginava como comprar.
Ela me pegou no colo e só me lembro depois um homem de farda e um jovem também de farda verde oliva,o moço tinha um furinho na garganta,engraçado que eu não estava enxergando.O senhor de farda cheia de medalhas, colocou a mão na minha testa e me pegou no colo.
Só me lembro de abrir os olhos tempo depois, no escuro ouvir conversas e um barulho de motor e depois minha mãe me colocando na cama.
O coronel tinha comprado todo o medicamento,soube mais tarde,Deus o abençoe.
Os dias passavam e eu nem tinha noção se era dia ou noite,só sentia as vezes as injeções doloridas e algo quente que engolia e ardia a boca cheias de feridas.
Quando finalmente eu me senti melhor, chamei minha mãe e ela ficou feliz me passando a mão no meu rosto sem parar.
A visão demorou a voltar,mas me lembro que minha mãe uma tarde,colocou algo doce e gostoso na minha boca e eu senti o sabor,era cocada que eu amava,ela sussurrou nos meus ouvido que tinha mais um pedacinho embaixo do travessero.
Sabe?Eu senti uma felicidade enorme,sabia que era muito caro pra ela comprar e ela tinha feito pra me agradar,senti um amor enorme por ela e a gratidão dura até hoje.
A história não é pra emocionar,comover ou outra coisa qualquer,mas pra compartilhar que um gesto de carinho ou não
marca pra sempre a vida de quem o recebe.
A minha é uma doce lembrança de mamãe Ana.
Coisa de Regina