DE REPENTE A PORTA SE ABRIU

 

   Aniege era aquele tipo de garota que poderia muito bem conquistar qualquer rapaz, era charmosa, dona de uma simpatia invejável e que se prontificava a ajudar qualquer colega de classe quando existia algum tipo de dificuldade em alguma matéria escolar. Era uma aluna aplicada e inteligente, só tirava notas boas. Na época ela tinha 16 anos e muitos tentaram namorá-la sem sucesso, sua visão ia além do que outras garotas imaginavam, essa diferença era vista pela maioria dos alunos do colégio onde cursávamos o quarto ano ginasial. Eu já me peguei várias vezes observando discretamente o seu semblante, os seus passos e principalmente o seu corpo, era um tipo de moça que agradaria qualquer rapaz que a namorasse, mas ela simplesmente não se interessava por ninguém e isso me dava uma certa esperança de um dia poder namorá-la, apesar da minha timidez. Mas, para falar a verdade, eu jamais teria coragem de pedi-la em namoro, um "não" para mim seria insuportável, amargaria essa decepção pelo resto da minha vida. E o pior é que Aniege era muito esperta, ela depois vinha me dizer, discretamente e sorrindo, que eu a estava espionando, o que me deixava sem chão e corado, mas ela tinha a capacidade de me acalmar e me fazer voltar ao normal. Como eu a admirava!

   Estávamos a poucos dias do final do ano letivo, avizinhavam-se as provas finais, tínhamos que estudar muito, foi quando Aniege me propôs estudarmos uma certa matéria juntos, ela sabia que eu me dedicava bastante no Português, assim como ela. E seria em minha casa, o que me surpreendeu, me senti o jovem mais feliz da vida, uma imensa felicidade brotou em mim. Até fiquei sem palavras quando ela me propôs isso, fiquei mudo, o que a fez perguntar se eu aceitava. Respondi que sim, quase balbuciando e ela com um sorriso me agradeceu. Marcamos o dia e o horário, o que me deixou muito tenso, surgia aí uma oportunidade para conversarmos extra oficialmente. No dia acertado eu a esperava, era uma tarde linda, fiquei na sala aguardando sua importante visita. Minha mãe estava ali perto no sofá quando a campainha tocou. Fiquei sem coragem de me levantar e minha mãe fez isso, levantou-se e foi até a porta. De repente a porta se abriu e eis quem surge: Aniege, dona de um sorriso que eu já conhecia. Ficamos sós ali na sala onde iniciamos o nosso trabalho para um bom desempenho nas provas finais. Cadê eu me concentrar bem!? Aniege estava me "incomodando" e ela percebeu isso. Fiz o maior esforço para que tudo saísse bem e graças a Deus consegui, mas essa bela amiga me ajudou muito. No final nos despedimos com um abraço e quase desmaiei quando ela me deu um simples beijo na face. Jamais isso tinha acontecido entre a gente. Ela foi embora dando um tchauzinho e nessa noite não dormi direito só pensando nela e até sonhando, só que o sonho foi mais ousado, nele eu a beijava ardentemente e perdia toda a minha timidez.

   No dia seguinte, logo cedo, eu já estava no colégio. Os minutos foram se passando e nada de Aniege aparecer. Entramos na sala de aula, eu e meus colegas e a porta foi fechada pelo professor para iniciarmos os estudos. De repente a porta se abriu e ela surgiu radiante e se desculpando pelo atraso. Meu coração quase pula do peito e seu primeiro olhar foi para mim. A aula teve seqüência normal, menos para mim que não parava de olhar para minha deusa Aniege, mais do que nunca ela passou a ser especial e bote especial nisso. Após a aula, durante o intervalo, conversamos pouco e dentro das trivialidades e nem sequer tocamos no assunto da sua visita a minha casa, era como se fosse uma coisa corriqueira.

   O final do ano chegou, fizemos as provas finais e passamos. No ano seguinte iríamos continuar no mesmo colégio, o que me alegrava muito, não sei o que se passava na cabeça dela, mas acreditava que iria se comportar como sempre, ela seria aquela mesma Aniege, que não caía na lábia de nenhum rapaz, porém não deixaria de ser o centro da minha atenção. Último dia de prova, todos se confraternizando na lanchonete do colégio, abraços, lágrimas e muita emoção. Aniege permanecia como sempre, intocável, porém dando atenção aos colegas que se despediam do ano letivo. Já na saída ela abraçou todos os colegas de classe e quando chegou a minha vez senti que o seu abraço foi especial e me detive no que ela me falou:

 

- Ainda nos veremos este ano.

 

   Os dias se passaram e eu fiquei pensando naquela frase de Aniege, aquilo me intrigou e não consegui parar de pensar nela. As festas de fim de ano chegaram, o Natal, a mesa farta com comidas da época, a família reunida, os jovens se divertindo e eu praticamente "no mundo da lua", sendo até advertido por minha mãe para que me animasse mais. Passado o evento natalino, estava eu na sala, numa tarde ensolarada, pensativo, quando a campainha tocou. Eu ia atender, mas minha mãe se adiantou e foi atender. De repente a porta se abriu e eu vi a imagem de Aniege, estava sorridente e me olhou com aquela simpatia de sempre. Pensei, ela veio me visitar, que bom. Mas de repente minha vista ficou embassada e eu ouvi minha mãe dizer:

 

- Volte outra hora, ele não pode atender.

- Mãe, eu estou aqui!

- Não, meu filho, não é prá você, é prá seu pai, mas ele está dormindo. É o vizinho que queria falar com ele.

 

   Fiquei encabulado, minha cabeça estava confusa. Me desculpei com ela e fui para o meu quarto, talvez uma boa soneca me fizesse refrescar a mente. E foi o que fiz.

   Na tarde seguinte eu estava novamente no sofá, a sala estava em silêncio e eu pensativo. Toca a campainha. Fico nervoso, meu irmãozinho corre para atender. De repente a porta se abriu, era ela, a minha musa, Aniege, com seu sorriso maravilhoso. Fiquei sem acreditar, até que ela falou:

 

- Boa tarde! Não vem me receber?

 

Me levantei do sofá o mais rápido possível, corri em direção a porta e recebi um abraço caloroso, um abraço igual aquele quando nos despedimos no final do ano letivo. Cinvidei-a para sentar, ainda sem jeito, mas ela deve ter entendido tudo, experiente como é.

 

- Vim te convidar para uma confraternização junto com nossos colegas do colégio, é amanhã a tarde e vai se prolongar pela noite. Vamos tomar um bom vinho e colocar as notícias em dia. Se não aceitar vou ficar muito chateada.

- Claro que aceito, como poderia recusar um convite desse partindo de uma pessoa que muito admiro?

 

Conversamos um pouco e ela foi embora, já que morava ali nas proximidades. E na tarde seguinte lá estava eu em sua residência e me enturmando com os velhos companheiros do colégio, tudo gente boa. Foi uma tarde/noite maravilhosa e só a presença de Aniege já era tudo para mim. Seus pais foram muito gentis e atendeu a todos com presteza. Ouvimos uma boa música numa conversa coletiva e agradável. Notei, não sei se foi impressão minha, que Aniege estava mais dedicada a mim, o que causou um certo "reboliço" na turma. Eles me olhavam e riam, faziam até sinal de ok, o que muito me encabulou. Mas deixei o clima rolar e em certo momento brindei com Aniege tilintando nossas taças. Ela se aproximou de mim com seu sorriso encantador e me fitou bem de pertinho. Olhos nos olhos. Não resisti, deixei a timidez de lado e beijei sua boca lhe roubando um beijo bem rápido. Ela sorriu apenas. Acho que gostou. Mas não passou disso, a festa transcorreu normalmente, tivemos um jantarzinho simples e depois todos se retiraram.

   Alguns dias se passaram, fiquei, mais do que nunca, com Aniege na cabeça, esses dias sem vê-la estava sendo um tormento para mim, mesmo ela morando no bairro, eu tinha um certo receio de procurá-la. A festa de Ano Novo passou e eu me diverti pouco, minha intenção era vê-la, conversar com ela e o que achou daquele beijo roubado. É verdade que estávamos sob o efeito de vinho, mas estávamos sóbrios, sabíamos o que estávamos fazendo. Eu não agüentava esperar mais, as aulas só começariam em fevereiro e já estávamos quase no meio de janeiro, então resolvi procurá-la, ir na sua casa, alegaria qualquer motivo e assim eu fiz. Cheguei em sua residência por volta das três ds tarde, estava tenso e imaginando como ela me receberia. Toquei a campainha, de repente a porta se abriu e quem apareceu foi a mãe dela. Perguntei por ela, mas ato contínuo Aniege surgiu por trás dela exibindo seu lindo sorriso. Fiquei mais tranqüilo, principalmente quando ela me convidou para entrar e sentar no sofá. Nosso papo estava ótimo, descontraído, até que ela segurou minha mão e entrelaçou seus dedos nela. Pressenti que algo maravilhoso iria acontecer. Aniege olhou ao redor, ninguém a vista, então ela me beijou demoradamente me deixando quase sem ar. Nesse momento compreendi que definitivamente ela seria a minha namorada, todas as minhas dúvidas sumiram e eu fiquei freqüentando sua casa com a permissão de seus pais. Eu já estava com meus 18 anos e ela completaria 17, estávamos dentro do limite para aquela época.

Para encurtar a história esse namoro durou cerca de pouco mais de dois anos, em seguida veio o noivado e em mais dois anos o casamento foi efetivado, gerando dois filhos e uma vida feliz que já dura mais de quarenta anos.

Moacir Rodrigues
Enviado por Moacir Rodrigues em 28/12/2022
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