UM DIA NO AEROPORTO
- Atenção senhores passageiros do voo 0666 da EN-TAO com destino a Lisboa e conexão em Madri, informamos que ele foi cancelado, pedimos que se dirijam ao balcão de atendimento para que seja remarcada uma nova data.
Diante deste imprevisto, Josephine liga para Edward avisando de que teria de adiar mais uma vez o tão esperado encontro.
Naquela tarde de sexta-feira após sair do trabalho, Josephine chega em seu humilde apartamento nos arredores da cidade de Florianópolis. Dirige-se ao chuveiro para uma merecida ducha, pois aquele dia os termômetros indicavam 32 graus, temperatura considerada alta para um início de verão, afinal todo o mês de novembro houvera sido chuvoso provocando alagamentos e deslizamentos na região. A casa de seus pais recebera uma enxurrada de água e lama provocando danos materiais incalculáveis, não fosse a agilidade de seus vizinhos e o Corpo de Bombeiros ela estaria neste momento chorando a perda de seus maiores tesouros.
Após o banho, Josephine se enrola numa toalha, liga o computador e inicia uma conversação com Edward que ela conhecera a cerca de nove meses num site de namoro.
Ela sempre fora avessa a este recurso, pois sempre tivera em mente de que as pessoas devem se relacionarem fisicamente e não virtualmente. Mas o seu coração ainda sofria pelo abandono que sofrera de seu antigo noivo que trocara por uma linda jovem aventureira que surgira em seu caminho. Neste momento não desejava ter compromisso sério com ninguém, mas...
Durante os encontros virtuais, Josephine se convencia de que estava surgindo um novo amor em sua vida, deixando para trás mágoas represadas em seu coração. Mas o que a impedia de ser feliz, questionava ela, para si. Seria a distância? A diferença de idade, afinal ela ainda não completara seus trinta anos e ele segundo o que apresentava, já passava dos quarenta.
Nesta noite de sexta-feira, a conversa fora especial. Ela se produziu e propositalmente não vestira nenhuma roupa, apenas uma toalha de algodão bordô que fizera parte de seu enxoval, enxoval sim, afinal Josephine era uma eterna sonhadora e ainda trazia consigo crenças e costumes de onde fora criada, porém na alcova ela se transformava numa tigresa insaciável. E era desta forma que ela desejava provocar Edward nesta relação virtual onde ambos alcançariam um orgasmo mútuo.
Após ambos sentirem-se saciados cada qual a sua maneira, brindaram com uma taça de vinho Cabernet Sauvignon e olhando fixamente em seus olhos, Edward a convida para visitá-lo em Lisboa a fim de senti-la em seus braços, acariciar a sua pele, o seu cabelo e beijá-la apaixonadamente. No frenesi de suas emoções, Josephine aceita o convite desejando estar o mais breve possível ao seu lado recebendo e doando carinho, pois era o que mais desejava naquele momento.
Na semana seguinte, Josephine recebe em seu e-mail a confirmação do voo 0666 da EN-TAO no horário das 23hs com destino a Lisboa. Toda feliz envia uma mensagem de áudio confirmando o recebimento dizendo estar ansiosa para conhecê-lo pessoalmente e tornar realidade tudo o que vivenciaram virtualmente. Ele, feliz agradece sua confirmação prometendo que terão belos e tórridos momentos de amor. Ela argumenta de que iria preparar as malas, afinal dentro de dois dias deveria estar no aeroporto embarcando para terras lusitanas.
Josephine coloca sua mala sobre a cama, abre seu guarda-roupa, defronte ao cabideiro fica imaginando quais os modelitos levaria nesta viagem tão especial. Sabia que nesta época na Europa é inverno, então seria roupas mais quentes, nada de vestidinho de alcinha, saias curtas, biquinis nem pensar. Mas levaria na mala algumas lingeries especiais para cada momento que seriam vivenciados. Um conjunto de lingerie preto, outro vermelho, sua cor preferida, vários conjuntinhos para o dia a dia. Uma blusa grossa de lã que ganhou de presente do seu antigo noivo quando viajaram para Patagônia em comemoração ao primeiro ano de namoro. Na volta ao Brasil, ela nunca mais usara tal blusa, pois a realidade climática de sua cidade não permitia fazer uso do seu “presente”, mas agora em pleno rigor do inverno europeu usaria com certa frequência.
Checou mais uma vez a lista de itens necessários para uma boa e feliz viagem, verificou que esquecera de alguns cremes “especiais”, recorreu a gaveta misteriosa onde costuma guardar segredinhos e viu que havia potinhos vazios. Telefonou para sua amiga encomendando-os, acertando de que no dia seguinte após o encerramento do trabalho passaria em sua casa para pegá-los. Frisou para que ela caprichasse nos detalhes da embalagem, pois desejava impressionar Edward nos momentos de alcova. Com as malas arrumadas e um checklist final, Josephine coloca suas malas no canto do quarto, deita-se na cama e olhando para o teto fica a imaginar o encontro dos dois, os abraços, os beijos... como será o seu beijo, questionava ela. Seria ele um homem romântico? Carinhoso? – deixa pra lá. Vamos esperar para ver, sentir, não é mesmo? Virou para o lado e adormeceu
No dia seguinte, o celular despertou. Josephine apreensiva levantou-se, banhou-se e ao sair do banho notou que não havia malas no canto do quarto, concluindo que não passara de um sonho esta aventura que estava para acontecer. Bebeu o seu café matinal, colocou sua roupa de trabalho, tomou o ônibus das 7:00 e seguiu para mais um árduo dia de labuta pensando no horário do almoço procurar uma banca de jogo de bicho e apostar os números 0666, na cabeça. Quem sabe não seja o meu dia de sorte? Mas achei meio esquisito estes números. Eu hein... sabe de uma coisa, vou apostar...
Valmir Vilmar de Sousa (Vevê) 27/12/22