LEMBRANÇAS

 

Júlia, com 80 anos, sentada em uma cadeira de balanço, em seu jardim, lembrou-se, das manhãs em que Arlindo a despertava com uma flor, carinho que só não ocorria, quando ele viajava a negócios. Seu amanhecer era repleto de mimos. Embaixo do pratinho da xícara, versos de amor. Sentia-se amada e muito querida.

Todos os dias, pegava um desses poemas e o colocava no mesmo lugar. Após tomar o café, abria-o e o lia com o mesmo encanto do passado. Horas depois, punha-o no lugar de onde o tirara.

Júlia repetia esse gesto todas as manhãs, forma que encontrou para homenagear o seu grande amor.

Durante os anos que estiveram juntos, construíram uma linda história de amor e de muito respeito. Nunca faltou entre eles companheirismo e felicidade.

Os filhos, embora morassem fora do Brasil, mantinham contato com ela quase que diariamente.

Arlindo, em momento algum, fora uma pessoa mesquinha e egoísta. Sempre demonstrou muito carinho e amor por todos.

Vinte anos se passaram e Júlia mantinha em seu coração o mesmo amor por Arlindo. Foram muitos os momentos felizes compartilhados.

Suas lembranças, nesse fim de tarde, acentuaram-se ao ouvir o vizinho, ao piano, tocando e cantando “Sonata ao luar”, de Beethoven, música esta que tocava no dia do primeiro encontro dela e de Arlindo.