Injusto

Meus olhos se abriram com uma aproximação, mas assim que o vi, meu corpo tornou a ficar tenso e fechei novamente meus olhos apoiando a cabeça na parede em minhas costas.

— Vai embora. – Eu disse e, é claro, ele não só não foi, como encostou na parede ao meu lado.

— Não sabia que fumava.

— Não fumo.

— Sei...

Suspirei de forma audível e meus dedos procuraram o cigarro que estava em meus lábios, apenas os afastando o suficiente para que eu expirasse a fumaça. Não precisava abrir meus olhos para enxergar sua expressão, sabia que aguardava uma explicação que eu não tinha obrigação nenhuma em dar. Claro que ele tinha uma grande experiência em fazer com que eu desse as coisas de bandeja pra ele. Como meu coração, um eu te amo, ou uma explicação besta.

— Estou sentada em uma mesa com você, em frente a sua namorada. – Dei mais uma tragada segurando a minha língua que queria dizer muito mais. Então me abaixei, apaguei o cigarro ainda grande na calçada e soltando aquela última fumaça, guardei o resto porque sabia que a noite seria longa.

Quando permiti meus olhos se encontrarem com os dele, vi muita coisa, mas não acreditei em nenhuma. A dor, arrependimento, saudades e até mesmo o carinho e afeto não me balançaram como achei que aconteceria. Talvez o rancor ainda estivesse muito vivo em meu peito.

— Sinto muito... Ela não sabe, você sabe, da gente. Quero dizer, ela sabe que você existiu, mas nunca disse seu nome. – Eu precisaria de mais um cigarro se ele não parasse de falar. — Não queria que ela ficasse insegura, então não dei um nome. Ela é uma pessoa incrível, muito inteligente, engraçada e se você conversar com ela-

— Porque você ainda está falando dela? – Questionei abandonando a parede em minhas costas e ficando a sua frente, não acreditando do que ele estava tentando. — Você está brincando comigo, certo? Não pode estar sugerindo que depois de tudo, de como terminamos, que eu vá até aquela mesa e fique amiga da sua namorada!

— Eu não planejei nada disso! Só achei que poderiam, não sei, talvez conversar...

— Você está se ouvindo? Você não entende o quanto é injusto para mim, para ela, que eu volte para lá e finja que não temos um passado? Quer que eu converse com ela como se eu nunca tivesse te amado? Que ela passe a noite me contando de como se conheceram e de como você é incrível, sem saber porque vou correr para o banheiro ao lembrar da gente? Porque ela vai contar, é isso que pessoas apaixonadas fazem, foi como eu fiz.

Ele assumiu então uma expressão angustiada e eu respirei fundo, ignorei aquela bomba de sentimentos reprimidos querendo explodir no meu peito, e balancei a cabeça tomando uma decisão:

— Não sei como meus amigos são amigos dela, mas não vou os perder. Resolva toda essa confusão, não tenho mais nada a ver com você, mas quando eu entrar naquele lugar, pagar minha conta e ir embora, vai precisar ter algumas respostas.

E assim eu fiz. E assim eu fui. Quando me deitei na minha cama e soltei um grito abafado no travesseiro, quis sentir alívio conforme as lágrimas se acumulavam, mas os soluços vieram apenas acompanhados de dor.

@aqueladobar

Bianca Gonçalves
Enviado por Bianca Gonçalves em 05/12/2022
Reeditado em 05/12/2022
Código do texto: T7665449
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