A Quem Merece Amor
Estudávamos na mesma faculdade e trocávamos palavras banais. Conversávamos sobre o curso ou sobre uma festa. As vezes passávamos dias sem nos ver.
Foi num desses encontros casuais que o encontrei triste, mais do que sempre fora, embora procurasse se mostrar alegre e brincalhão.
Ele estava sentado na saída da escola. Quando eu passei e disse um “oi” rápido ele segurou minha mão.
-Ei, venha cá, sente-se aqui.
Eu sentei perto dele.
-O que foi?
-Já terminou a aula por hoje?
-Sim.
-Você tem um tempinho pra mim?
-Como um tempo?
-Estou precisando conversar um pouco.
-Comigo? Sobre o que quer conversar comigo?
-Por que o espanto? Não nos conhecemos muito, mas podemos vir a nos conhecer e sermos amigos. Acho você muito inteligente e sei que pode me ajudar ou aconselhar. Pode me ouvir, Teresa?
-Tudo bem, Maneco. Vamos conversar.
-Vamos até a pracinha, lá é bem tranquilo.
-Sabe que eu tenho namorado, né?
-Sim, eu sei. Eu prometo que não vou lhe comprometer.
Eu sorri. Ele disse:
-Acho que você é a pessoa que eu procuro para levar um papo que estou precisando.
-Tudo bem.
Conversamos muito. Ele despejou sobre mim um monte de problemas. Falou da família, de sua vida, de suas frustrações, de um namoro recentemente terminado e do amor que sentia por ela e que não foi correspondido. Falou de como estava triste e não conseguia superar o fim do namoro e de ser trocado por outro.
Eu ouvi tudo, tentei ajudá-lo a superar aquela tristeza.
Daí por diante sempre conversávamos e nos tornamos até confidentes. Ajudávamos um ao outro.
Ao conhecê-lo melhor percebi que além de ser um homem lindo e que chamava a atenção por sua aparência física, ele também era interessante e tinha uma inteligência e personalidade brilhantes.
Um tempo depois o meu namoro também terminou, com uma grande decepção.
Ele me consolou e ficava preocupado com a minha tristeza. Estava sempre tentando me colocar pra cima.
Com o tempo, daquela amizade foi nascendo em mim um amor intenso e imenso. E eu ficava triste pois ele só me via como uma amiga, uma confidente e falava de seus problemas e dores pra mim.
Quando ele chegava e me abraçava, eu precisava me conter para não beijá-lo e declarar meu amor.
O tempo passava e ele nunca demonstrava mais que amizade por mim. No final do ano ele se formaria e voltaria para a sua cidade e eu ainda tinha mais um ano de curso. Só de pensar na ausência dele me dava um nó na garganta.
Um dia estávamos sentados na cantina da faculdade e ele me disse:
-Teresa, sabe o que eu mais tenho medo? Sofrer uma nova decepção. Amar novamente e ser mais uma vez decepcionado. E eu estou amando.
-Não é porque foi decepcionado uma vez que você vai sofrer toda vez que amar.
-Mas ela não me ama, sei que não me ama.
A minha vontade era de chorar, de deixá-lo falando sozinho.
Ele continuou:
-Ela só me vê como um colega, como um amigo.
-Você é um otário, devia amar quem lhe ama.
-E quem me ama? Acho que ninguém.
Eu tive um ímpeto de dizer que eu o amava muito, mas me contive.
-Eu estou cansada de suas lamentações, você sempre se fazendo de vítima. Não vou mais ficar ouvindo você fazer de tudo um grande problema. Você não tem que me dizer que está amando. Vá dizer pra ela. Chegue pra ela e diga: “eu te amo”. Se ela rir de você, xingue, esbraveje, faça um escândalo, mas não fique aí se lamentando. Ficar amando e sofrendo em segredo não é a melhor opção.
Eu não consegui dizer mais nada. Minhas lágrimas ameaçavam rolar e eu engasguei com elas.
Ele muito tranqüilamente disse:
-Eu te amo.
Já me refazendo eu disse:
-É isso mesmo, vá dizer a ela que a ama.
-Estou dizendo, eu te amo.
-O quê?
-É você que eu amo. Eu posso ter alguma esperança?
Eu ria e olhava pra ele feito boba.
-Toda esperança do mundo. Eu também te amo e você como um tolo nunca percebeu.
Ele me abraçou e beijou. Um beijo terno e suave, mas apaixonado. O beijo que eu esperei por muito tempo.
Os colegas gritavam, assobiavam, aplaudiam, mas a gente nem ouvia. O momento era só nosso…