A ESTAÇÃO DAS FLORES

Teresópolis, uma linda cidade serrana, e que nos apresenta o auge de sua beleza na Primavera.

As crianças a apanharem flores no caramanchão para presentear suas mamães, e a praça do Alto da Serra sendo muito frequentada pelos casais de namorados... Que lindo! Todos envolvidos pelo perfume do nobre sentimento. Era feriado do Dia das Crianças, e elas quebravam a rotina de tranquilidade do bairro, se aglomeravam na padaria do simpático luso-beasileiro Manoel da Cunha que todo ano as presenteava com algodão doce.

Era um senhor feliz e realizado, pelo menos no lado profissional, mas na vida pessoal vivia triste por ainda não ter conseguido ainda realizar o sonho de ser pai.

Via em cada criança que estava na fila o brilho no olhar querendo o doce, e em seu pensamento a voz da tristeza dizendo que a vida para ele não foi doce. Uma lágrima rolava do seu rosto quando um menino o cutucou no braço e o fez sair daquele pensamento de desânimo. " Oi Seu Manoel! Quero a nuvenzinha doce! "

Manoel olhou para a criança e era como se sua alma tivesse se transportado para um mundo onde não existia lamúrias nem vazio. Resolveu não mais se entregar, e veio em seu pensamento o tanto que era querido pela criançada do bairro desde o dia em que ali fixou residência há 30 anos. Manoel era ainda um jovem de 19 anos quando chegou vindo de Portugal com seus pais. Manoel nasceu em Copacabana, e , aos dois anos, foi com os pais morar na Terrinha. A decisão foi tomada meio que a contragosto, pois amavam a Cidade Maravilhosa, mas infelizmente devido a terem passado alguns perrengues ( bandidos invadindo apartamento, o susto das constantes balas perdidas...) então se viram não tendo outra opção. Quase vinte anos depois, ao retornarem, constataram que o problema da violência só tinha se agravado. Então, seguindo a ideia de um casal amigo vizinho que se refugiaram na serra carioca, também fizeram o mesmo. Lá eles se estabeleceram, felizes com a oportunidade de refazerem a vida. Que recomeço! Mas a vida nunca é de flores! A realização de um sonho verdadeiro precede muitas lutas, sacrifícios e abdicações. O alívio é só uma pausa para recompor a alma, voltar a se fortalecer. O barulho das ondas do mar deu lugar à melodia graciosa dos pássaros. Este lindo som iria acompanhar toda a trajetória de Manoel da Cunha. Uma linda jovem fez Manoel receber um sorriso da vida. Mas este sorriso não seria espontâneo, era um sorriso perigoso. O sorriso da menina não trazia a sinceridade como a melodia do canto dos pássaros. Manoel caiu na armadilha dos lábios envenenados.

Leni era o nome dela, falava muitos idiomas, só não falava a linguagem do amor. Era uma sugadora de energia: pedia, pedia, pedia... E nada retribuía. Manoel da Cunha deu-lhe conforto, fez dela uma rainha, e acima de tudo deu-lhe sua paciência. O primeiro trabalho de Manoel foi animando festas de aniversário da criançada vestido de palhaço e também apresentando teatro de bonecos. Muitas vezes chegava tarde em casa e era recebido pela cara enfezada da mulher. Manoel foi aguentando até onde pôde. Num belo dia ( digo belo porque foi um dia em que ele tomou uma decisão, parou de empurrar com a barriga ) ele conversou com Leni, falou que não dava mais. Seguiu seu caminho só, não conhecia terapia de casal e não entendia o passo que deveria dar para uma transformação. E por não entender, o fim foi separação. Leni insistiu e usou a tática das mulheres emotivas: o choro.

Não era choro de amor, era choro por ter cessado a mordomia. Gata quando quer leite só faz manha, só mia.

Manoel era um rapaz tranquilo, trabalhador, deixou a gata e não fez como muitos homens, passando o rodo. Ele tinha uma alma limpa, por isso não agia dessa maneira. Ele soube aguardar, confiar em Deus. A tristeza aparecia, era como uma chuva que entristecia a paisagem. Mas logo o sol aparecia fazendo as cores da natureza festejarem em nossos olhos. Manoel acreditou, mesmo nos dias tristes. Ele era um ser diferenciado, pôs sua casa em ordem, caminhou com as duas pernas ( fé em Deus e ação) . Buscou a Deus sem olhar amedrontado para a guerra do lado de fora. Não se intimidou com o aviso de que o tempo estava passando e ele ainda não tinha uma família. Manoel ergueu aos poucos o castelo dos seus sonhos Ele não enterrou seu sonho, ele construiu um castelo. Cresceu na vida porque ele não se entregou, não deixou que a vida o levasse. Manoel da Cunha, homem de Deus, conquistou bens, muito comércio, adotou uma daquelas crianças da fila do algodão doce. O menino chamava-se Henrique, viva descalço, dormia na rodoviária. Era carinhoso, carente de atenção. Manoel da Cunha foi como um sol na vida do menino. E para o jardim da vida ser completo, Manoel da Cunha ganhou em sua vida o perfume da alma feminina. Geysi apareceu numa tarde que não tinha nada pra ser especial. Era um rosto meigo que Manoel nunca tinha visto, e o seu carinho e verdade fez o homem Manoel mudar a opinião sobre vida amorosa. Deixou de ser homem descrente do amor e passou a ser como um menino sonhador e feliz com o coração batendo forte. O jardim ficou muito bonito, a vida de Manoel recebeu a verdade das cores, a paisagem triste ficou no passado e a transformação aconteceu na estação das flores.

( Autor: Poeta Alexsandre Soares de Lima)

Poeta Alexsandre Soares
Enviado por Poeta Alexsandre Soares em 04/11/2022
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