HADES UTERINO (o sentido do olhar)

Esta é a minha mãe no chão seminua

Seu sangue se mistura com o asfalto da rua

O motorista não parou, acelerou

E fugiu, deixando gritos de pavor

Alguém mexe na bolsa dela e tira os pertences

Outros rodeiam para ver se a reconhecem

Ainda há almas caridosas... É verdade

E levam-na para a maternidade da cidade

Ela está grávida de mim, e teme me perder

Ela transpira o que eu sentira quando tento me mexer

Ela ilude a fraqueza, mas nada faz sentido

Enquanto aguarda a certeza de um parto induzido

A indução dói mais que um parto normal, a priori

Sussurram as médicas enquanto ela geme de dor

Doi saber que dois seres podem morrer

Um mal começou e o outro nem sabe se vai viver.

Pobre da minha mãe! Que dia cinzento?!

Pessoas questionando tal acontecimento

Nasci, mas sem o choro comovido

Apenas um silêncio que a feria os ouvidos

Eu mal me mexia, infelizmente

Doi ver a perda do fruto do próprio ventre

Admirado, vejo pessoas chorando por mim

Não sabia que ja era tão amado assim

Sei que todo filho é uma dádiva divinal

Sei que todo filho é um fruto sem igual

Se eu seria um bom homem, não sei responder!

Vou deixar cada um opinar o que poder

Cada um tem uma história de guerra ou de paz

Mas a minha termina aqui não diferente dos demais

Minha mãe chora forte e, reclama

Não sabe que a morte não separa os que se amam.

Hebo Imoxi
Enviado por Hebo Imoxi em 20/10/2022
Reeditado em 20/10/2022
Código do texto: T7631672
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