Minhas letras
Ouço sua música de gestos e danço em sua memória, com as mãos estendidas a te convidar para vir morar em minhas letras. Se dançardes no meu compasso, vais aprender a ver meus passos por dentro de letras que traçejo entre linhas.
É que minhas letras são impróprias em bocas de "não" e eu, eu moro principalmente nos espaços entre vogais ou consoantes. É pelas lacunas que invado as suas frestas e faço festas em nossos sentidos, na contramão da razão, me rasgando de tudo que desdenha minha mente.
Minhas letras são vadias em trajes de gala, que ofertam a ti profecias de vida colorindo os dias vazios. Letras que riem... ironia de letras que não concordam no singular e violentam a brancura do meu papel insone, redesenhando na falta de tintas a distância que nos consome.
Vem! Dança comigo e usa suas mãos para tocar-me a alma com um samba-canção sincero, ou quem sabe uma valsa, ainda talvez um bolero... conta-me os inumeráveis segredos que te escapam por entre os dedos, esvaindo-se entre dentes...
Enquanto espero, repouso pincéis e tintas ao lado desse quadro para o qual já fiz moldura, bordando rendas em versos de saudade. Um dia hei de morar dentro do seu abraço…