NAMORICO
Eu cursava a Escola Normal, hoje o Curso de Magistério, ao final da década de 1960. Equivalia ao Segundo Grau e formava professores para o ensino infantil. Foi nessa época que comecei um namorico com José Ari, um conterrâneo que fazia o Curso Pré-Vestibular em Curitiba.
José Ari vinha para Curitibanos - SC, nossa cidade, esporadicamente, entretanto, ele pôs fé no namoro e me escrevia cartas amiúde. Eu não deixava de respondê-las apesar de sentir que era difícil manter um namoro à distância, que não era pouca. Nos víamos a cada dois ou três meses. Tanto para ele como para mim, foi o primeiro namoro. Éramos muito jovens e meus pais me faziam lembrar disso a toda hora.
Quando ele vinha, nos encontrávamos no final da semana. Aos sábados ele me visitava e ficávamos na sala, vendo TV e conversando. Qualquer avanço de sinal era praticamente impossível devido à vigilância de mamãe e vovó, um beijinho ou outro e só. Aos domingos íamos ao cinema na sessão das 14: 00 h. e nunca sozinhos. Meu irmãozinho mais novo nos acompanhava. Ordens de papai. Ia para “carregar a vela” como diziam as pessoas em tom divertido e irônico, naquela época.
O mano, aos dez anos, não se avexava. Certa vez nos acompanhou e o filme de ficção científica se desenrolava em clima de mistério e suspense. Inesperadamente, eis que na tela surgiu um monstro assustador. O maninho cochichou-me ao ouvido:
- Tita, preciso ir ao banheiro. E foi.
Demorou a voltar e sentou-se, enquanto o filme prosseguia. Dali a pouco apareceu o monstro novamente e Odilon avisou que ia ao banheiro. O fato repetiu-se mais uma vez e foi aí que desconfiamos que o mano estava era com medo do assustador personagem. José Ari e eu caímos na risada mas não fizemos nenhum comentário, porém sabíamos que o motivo era esse. Até hoje ele não desconfia que descobrimos seu segredo.
O romance entre José Ari e eu não estava fadado ao sucesso. Eu tinha, secretamente, um sonho, o de prosseguir nos estudos. Logo fui para Caxias do Sul, morar com uma tia, onde prestei o vestibular. Lá me senti livre para aproveitar mais a vida, estudar, almejar um bom emprego, salário, ganhar minha independência financeira. E foi o que fiz.
Recebi ainda algumas cartas do rapaz, porém a distância também o desencorajou. Eu sentia que ele pretendia algo sério, um casamento, formar uma família, talvez. Eu não pensava o mesmo. Não me via casada com aquela idade, com filhos e responsabilidades, meus sonhos iriam por água abaixo. Era um bom rapaz, de boa família...mas não era para ser...
E, assim, nossas vidas tomaram rumos diferentes. Nunca mais o vi.