Poesia concreta em livro aberto…
Quando passar por mim, entra e fica? Me embriaga de mundo, deixa impressões pela pele. Escreve-me com dedos misteriosos, rasgando o silêncio. Traça-me no corpo neologismos de um amor que já não cabe em mim e só te pede que no meu coração não faça rascunho.
Quando escrever em mim, seja sem prumo, se escrever afeto em superlativos maiúsculos. Entorna letras de paz em meu dia e arranca páginas de mim. Sem remetente, que sou sem nome e sobrenome. Sou poesia concreta, de versos cansados de não mais haver e apenas são.
Percebo tardiamente que quando chegas, sou a parte que falta na vontade de ficar só. O resto continua sendo mundo, enquanto vivo com o infinito descrito na memória. E se por acaso a tua história me cruza o dia, seguro as horas e deixo o infinito pra depois. Assim, volta e meia visito lugares de memória, com o olhar oblíquo nas tuas letras. Perto do que tuas mãos me descreveram, todos os mistérios do universo parecem pequenos e é nos teus cabelos que emaranho bons presságios…
Lapida letras no meu corpo e me traz interrogações aos olhos? Risca-me um sorriso de exclamações que nada possa deter? Sei que o mundo muda despejando dilemas, mas a tua presença é o que fica nas leituras das horas tortas e nos tempos de sonhos.
O que me leio é tua rota, que nunca se faz ausente. Não há léguas que separem minhas letras de tuas páginas e por mais óbvio que te pareça, sempre chegam dias em que vou me revelando na sua leitura, desde a primeira letra que foi riscada em meus braços abertos ferindo-me a alma deixando-a sedenta e ridente.
Se acaso chegar mais perto, passe por dentro e me encontre na primeira letra que me escreveste febril. Um dia essas escritas me fizeram achar que não era finito esse tempo quase irreal de tão fugaz. Releio a última década e percebo que sem teus poemas, minha luz é nada. Sem tua caneta, meu livro é romance de 5ª categoria e minhas falas são movediças, estampando emoções nas entrelinhas e dilacerando a redação de cartas alheias que esqueceste escritas na pauta das minhas artérias, contando em poucas sílabas que se perdeu de amores quando leu o fim de minha primeira frase.