Erótico XXVIII
Pouca luz. Sobre o corpo o roupão azul. A música muito baixa acompanhava o teu sono. Dormias uma serenidade leve, braços abertos, peito lento e profundo, sonhos suaves. Fiquei sentado na poltrona a ver-te escorregar para o outro lado da vida intensa que levávamos. Deixei de contar o tempo e fiquei vigilante. Quando te voltaste havia uma coxa e o peito descobertos, a boca carnuda deixava passar a respiração e o rosto mantinha-se parado, olhos ausentes.
Despi-me. Fiquei assim, enrolado sobre o ventre, cabeça apoiada, corpo morno. A seguir vi o teu ventre e depois o sexo inteiro, as nádegas rijas, o calor a chegar à seda do roupão, o começo de outra fase, a turbulência de um sonho novo. Havia algo mais forte a acontecer e deitavas-te de bruços, suspiravas, gemias num paraíso virtual.
Deitei-me a teu lado e nunca te toquei. Foste tu a atrair-me, a exigir a minha boca, a entrar nela devassamente. E já não dormias nem sonhavas, estavas ali e querias tudo. O corpo, a sede, o sumo, o gemer do fogo a tomar a pele.