Apêndice à Apolóponos - CLTS 20 - Não-participa
Em recortados momentos que a vida dava de presente, quase danúbios, sentia se preencher sua alma de sentimentos poucos conhecidos por si. Era falta de experiência? Fato era que se sentia confuso com eles, mas enquanto os vivia sentia alegria, invés do recorrente vazio - o qual costumava encher com as dores reminiscentes. Um campo florido, rochas brilhantes de água fina correndo livre, um céu parecendo o quadro do mais otimista artista. Será que tudo isso teria cor? Tinha alguém que, como um prisma, espalhava o arco-íris ao mundo, seu. Não sei dizer... é sonho? Que vida é essa cuja vontade é dormir perpetuamente? Não pode ser. É a realidade; estava despertando - surgira, enfim, a voz que tocava no seu íntimo, dissipando estrondos de tempestade; era a voz da bonança, trazendo a claridade do dia.
Percebia, pouco a pouco, as diferenças existentes no amor - esse, ainda, desconhecido. Quem já viu a garça no céu? A queda da pétala na água? O voltar ao chão da bailarina? Tudo isso é amor - os opostos que viram um só.
E queira ver o mais diminuto dos detalhes, Notava o tom da pele clara e queimada do trabalho; um olho escuro, o outro, cego, clarificado - será isso um retrato?; o cabelo negro pendendo para o rubi; as minúcias. O que sentia? Nada mais podia ser: era como parte de si - um corpo para o outro. E tardes idílicas vinham, de aves caladas, observando curiosas, ansiosas, de galhos ondulando esperançosas, toda a natureza aguardando a destinal união, seladora das almas.
E nesse momento de calmaria, recordou as canções de remotos tempos. Um vento estranho lhe tocou, agourento. Abriu os olhos, assustado, no momento, sentindo o perigo de, de repente, abrir-se a porta da morte. O coração, apesar de acelerado, lembrou-se que consigo havia o lenitivo de suas dores; ignorou aquilo - queria ser livre, seguiu. Era um aviso...
~
m.c.
ñ.r.
~será que agora vai?~