A Roda da Vida - cap 1

Era quase sete horas e eu andava apressado pra não perder a hora. Pretendia comprar o pão dos meus pais e tomar a bicicleta rumo a casa paterna à tempo de não me atrasar para o trabalho.

A Forma é uma boa empresa mas não tolera atrasos. Por isso temos relógios de ponto e os descontos acontecem se ficar me atrasando. Não gosto de descontos mesmo porque faltas fazem a gente perder a cesta básica no final do mes.

Eu deixei Marlene zangada emporcalhando o chão com minhas botas sujas na noite anterior e estudava distraído uma maneira de conseguir amansar a fera.

Seu coração de manteiga derretida sempre ficava mexido com as malcriações da mulher. Não era apaixonado por ela mas procurava agradá-la de todas as maneiras. Romântico inveterado sempre procurava romance por toda a parte.

Marlene, por outro lado, nunca se comportava de maneira romântica. Assim eu estava sempre resmungando de alguma coisa. E apesar de sempre a estar presenteando com coisas pro conforto dela, nunca estavam felizes.

Não tinha notado isto até aquela manhã.

Já tentara se separar dela levando suas coisas pra uma kitnete que construiu sob a casa dos seus pais. Mas Marlene o visitou algumas vezes e acabou voltando pra casa dela.

Naquela manhã, ao pegar a bicicleta e descer a rua embalado rumo a padaria, quase atropelei meu cunhado Antonio.

Entrei na rua Getúlio Vargas a mil por hora. Nem precisei freiar pois não tinha carro na pista.

Passei pelos 2 quebra-molas, desviei de algumas pessoas que não andavam na calçada e de alguns cães sem dono.

Desviei das crianças que andavam desalinhadas pela rua rumo às escolas para o turno matutino.

Passei pela rotatória que dá início a rua João Batista Figueiredo sem parar na faixa de pedestres. Ainda bem que não encontrei ninguém atravessando.

Na frente da Padaria Trilegal deixei a bicicleta encostada e entrei. A Mariana estava lá bem sorridente como sempre. A irmã dela pôs os pães na sacola pra mim enquanto a outra anotava a data na minha ficha.

Assinei e ela anotou o valor e saí desgovernado pra não perder o horário. À saída porém, vi o ônibus a despejar o fio de pessoas logo à minha frente. Ao pegar a bicicleta, no entanto, dei de cara com um rosto familiar descendo do circular. Meu coração Disparou, em tantas batidas por vez que mal consegui ficar de pé.

Há tempos não me sentia assim. Aproximei-me pra ter certeza de que a pessoa era ela.

Ela saiu de casa pensativa. Seu ex marido a perturbava muito. Ele não se conformava com o fim do relacionamento. Fora um erro juntar os trapinhos com aquele sujeito. Muito ciumento. Seus filhos : André e Jane, do primeiro casamento, não aceitavam essa união. Mas depois de sofrer tanto cuidando do esposo doente, Ane achava realmente, que merecia uma outra chance de ser feliz depois da viuvez. Mas enfim o ciúme estragou tudo e acabou.

Procurava não pensar nele e vivia sua "vidinha mais ou menos " um dia depois do outro. Trabalhar e voltar pra casa em Sua cidade e vez por outra visitar sua família em outra cidade próxima. Naquela manhã específica andava cabisbaixa sem expectativas e planejava os serviços da casa da patroa.

Desceu do ônibus em frente à praça e quase atropelou um maluco que saiu às pressas da padaria Trilegal. Ela o havia visto atrás do ônibus enquanto chegava à cidade e ao ponto de ônibus. Mas não prestou atenção nele, embora ele lhe lembrasse alguém. Só que em cima da bicicleta e olhando pra baixo não daria pra saber.

Em seus devaneios não imaginava a surpresa que o destino lhe reservara pra aquela manhã.

Ele saiu da Padaria Trilegal apressado mas ao avistar a mulher que, descia do coletivo, parou estático. Não podia deixar passar a oportunidade de perguntar. Só podia ser ela. Parecia muito, mas estava um pouco mais velha. Fazia muito tempo que não sabia notícias dela. A amiga que lhe dava notícias não mais podia fazê-lo.

Dirigiu-se a ela e tomando coragem perguntou:

- Você é a Ane não é?

- Sim sou eu. Você é o Almir?

- Sim sou eu. Com um sorriso no rosto.

E ficaram conversando um pouquinho. Ambos atrasados. Marcaram de se rever mas não trocaram número de celular.

Um até breve e seguiram caminhos inversos.

Voltaram a se ver bem ali e havia um clima de romance no ar. Ela não queria outro romance pois achava que os filhos não aceitariam depois de ver a infelicidade que passou com o último marido.

Mas Almir era diferente. Fora seu primeiro amor. Iam juntos a escola. Na época tinham uma amiga em comum. A Clarice que também era a melhor amiga de Almir. Eram um trio inseparável.

Ela começou a namorar o primeiro marido. No fundo queria que Almir tentasse impedir. Assim saberia com certeza quais eram os sentimentos dele. As vezes achava que ele a amava. Mas não. Almir até começou a namorar a Colega. Assim, ela se casou com um policial e foi morar em Aracruz. Ane teve 2 filhos com o marido. A Jane e o André. Mas nunca foi feliz. Ele, muito ciumento era muito mau pra ela.

Almir obtinha notícias dela por uma parente que morava perto. Mas pessoalmente ele nunca mais a vira. Pelo menos até aquele momento.

Ane nunca mais vira Amir. Sabia que não tinha ficado com a colega. E também que tinha se casado com uma menina e tivera um filho.

Naquele momento Almir e Ane tiveram certeza de que os seus sentimentos não mudaram. Almir ficou tão feliz que chegou na casa da mãe a tarde só pra contar a uma das irmãs.

Continua.

Nilma Rosa Lima
Enviado por Nilma Rosa Lima em 26/08/2022
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