A mágica
A Mágica
Moro numa cidade do interior, aqui não tem nada. Pode pegar o cavalo e cavalgar duas horas que não encontra nada. A não ser as “Zinhas” é Rosinha, Mariazinha e as outras vizinhas, o resto é lagarto, cobra e mato.
Eta cidade esquisita! Moro aqui desde que nasci e não aprendi a viver nela. As pessoas aqui são carrancudas, sempre resmungando. Eu acho até, que é uma cidade triste.
Imaginem! Toda essa lonjura e vai acontecer coisa diferente. Não vejo a hora!
No dia programado, todos foram para praça achar o melhor lugar e esperar. O sol tava bravo!
Quando avistaram aquele caminhão, foi uma loucura pra ficar na frente. Eu não! Eu sou vivo, deixo a poeira baixar e depois arrumo o melhor lugar.
Alguém gritou. É uma mágica!
Oh Cabra bom de olho! Como ele descobriu?
Não sei o que aconteceu, mas tudo na cidade mudou e as pessoas ficaram felizes.
Todos sorriam! Uma mágica estava chegando à cidade num caminhão prateado com o desenho de uma garra vermelha ameaçadora, que parecia agarrar alguém.
Quando o caminhão parou, todas as crianças correram para agarrá-la, todos queriam beijá-la e tocá-la. Com aquele cabelão, quem não queria tocar! Até eu queria!
Como eu sou um cara muito tímido, um cara do interior. Fiquei afastado. Só observando ela pegar e vestir uma capa vermelha que brilhava muito. Deu pra ver que estava escrito felicidade bem grandão. À medida que ela andava, todas as crianças andavam juntas. Tente entender uma mágica numa cidadezinha do interior. É novidade!
Quando ela passou por mim, lançou um olhar estranho. Fiquei com medo! Eu acho que ela queria me pegar. O que um cara da roça, que nunca viu a cidade grande entende de olhar. É melhor esquecer e esperar pelo espetáculo.
Subi num barranco de cupim, aqui tem muito cupim e cupim é bom pra pescar, mas aqui não tem rio.
Eu não quero nem pensar, eu quero é vê-la fazer mágica. Na hora do show ela falou:
- Preciso de alguém para me ajudar! Eu fiquei quietinho. Não adiantou. Fui o escolhido. Ela jogou um pó mágico em mim e falou:
-Eu vou levar você para mim, de hoje em diante nós seremos felizes.
Fiquei parado pensando: Eu! Por que eu?
Você é o preço da felicidade, às vezes, para sermos felizes, temos que perder e para a cidade ser feliz, perdeu você.
Não consegui mais controlar meus sentimentos e fui embora com ela. Só agora entendo porque aquela garra parecia pegar alguém, nunca imaginei que seria eu.
Paulo Ribeiro de Alvarenga
Criador de vaga-lumes
Iluminando pensamentos