inexorável
Parei encarando minha imensa fortaleza da janela mais alta. Pensei em como coloquei cada pedra e em quanto sangue foi necessário para regá-las. Este era obviamente um floreio: nada crescia naquele lugar. Nenhuma planta. Nenhum passarinho. O próprio sol parecia temer aquele cinza. Eu temia aquele cinza, mas temia muito mais a infinidade de cores lá fora. Da infinidade de espinhos que me fariam sangrar.
Não obstante, sangrava naquele momento. Um simples momento de tolice fizera-me receber um punhal no coração. Em toda minha superestimada sabedoria, abrira o portão para os ventos da novidade que nada traziam além de mais do mesmo.
Descia os degraus lentamente. Havia trabalho a ser feito. Carregava em meus braços mais uma pedra. Obviamente não seria a última. Pensara minha fortaleza impenetrável. Pensara vasta. Pensara efetiva. Nada mais era que um tolo prisioneiro.
Descansei a nova pedra em seu lugar e sentei-me para observar meu trabalho de tanto tempo. O céu se apagara. Minha esperança enterrada profundamente naquela construção colossal.
Quanto mais tempo até tudo o sopro da morte levar?