Pétalas de Margaridas

A manhã de outono estava fresca e cheirosa como as flores de margaridas. Monalisa se sentia feliz e pensava como os últimos dias no campo e na companhia de sua tia lhe fizeram bem, depois de afundar num mar de tristeza quando recebeu o convite de casamento do seu primo, seu melhor amigo de infância, seu companheiro e confidente, seu primeiro e único amor... Se casaria com outra mulher exatamente nesse dia.

Ela continuava pensando em como não conseguira esquecer Leonardo mesmo após tanto tempo, já se passaram quatro anos que ele foi estudar artes na França, e ela não só lembrava como mantinha viva dentro de si a promessa que fizeram enquanto estavam deitados sobre a plantação de margaridas, foi a primeira vez que fizeram amor. Lágrimas percorreram seu sorriso enquanto lembrava dos detalhes: Leonardo despetalou três margaridas brancas sobre o seu corpo nu, e foi coberta de pétalas que ela desabrochou em seus braços. E naquele momento de descobertas prometeram ficar juntos e viver o amor que sentiam mesmo que precisassem se afastar por um tempo.

As lembranças trazidas por aquele lugar começaram a lhe entristecer, uma mistura de saudades, raiva e dúvidas, Monalisa questionava como Leonardo pôde esquecer dos momentos de amor, da cumplicidade entre eles e da promessa... Por que parou de enviar cartas? Talvez ela fosse muito tradicionalista e adepta ao romantismo, enquanto ele se tornou um homem moderno de alma e coração livre. Enfim, decidiu que precisava esquecer Leonardo e sobreviver àquele dia.

Já era noite quando Monalisa se preparava para partir, não conseguiu fugir do pensamento de que a essa hora Leonardo já estaria casado e a caminho da sua lua de mel. Prometeu a si mesma que era a última vez que pensava nele. Tinha acabado de fechar a mala quando ouviu o barulho de um carro chegando na porta do sítio, uma voz inconfundível ecoava nos seus ouvidos, “tia, titia, tia Margô, onde está você?”. Era ele, pensou Monalisa, a voz de Leonardo fez seu coração disparar e ela caiu sentada na cama. Se esforçava para ouvir alguma mulher que possivelmente viera acompanhando Leonardo, mas a única voz feminina era da tia Margô.

A porta do quarto se abriu e Monalisa levantou-se de sobressalto, era a tia radiante anunciando que Leonardo estava na sala. Sem conseguir se mexer, Monalisa abriu levemente a boca e bem baixinho perguntou: “ele veio com a esposa? ” Tia Margô respondeu pegando em sua mão e já arrastando Monalisa em direção à sala. “Não, ele veio sozinho.”.