Solitário e avulso e dramático

Hoje não foi um dia tão bom como ontem. Acordei sentindo o peso do mundo em minhas costas, cansaço e fadiga me acompanharam até o último minuto do dia. Mas, ei, deveria ser um marco, certo? Mudanças de mentalidade, novos paradigmas da adolescência e bebidas e tragos inconsequentes nas madrugadas. Você riu quando mencionei essas barbáries, nós dois éramos únicos e vivíamos na mesma sintonia. Esse mundo não era meu, mas era o seu, e você não me disse nada.

Eu me assustei quando não senti mais a sua falta e seu nome não estava na ponta da língua como costumava estar. Seus dias se moldaram a sua nova realidade e quando percebi já não nos encaixávamos mais. Você viveu experiências em que não pude te acompanhar, afinal de contas, como poderia? Logo eu, exemplo de pena, sem pais e com tantas máscaras que me impedem de me mostrar ao mundo. Mas eu me mostrei a você, e tempos depois você foi embora levando junto consigo uma parte de mim. Ali eu soube que precisava recomeçar, mesmo que não aceitasse isso.

Quando pensei em recomeço sabia que cogitava apagar pessoas da minha história, só não esperava apagar você. Começou simples, você beijou pela primeira vez, muito antes de mim, e me falou tempos depois. Construiu novos gostos e personalidades e amores, e me falou tempos depois. Se embaralhou em corpos noite a dentro e sentiu sensações e medos e angústias que não pude acompanhar, e me falou tempos depois.

Quero pedir desculpas, correr atrás, me mudar da cabeça aos pés e falar o que eu acho que você quer ouvir. E eu fiz isso. Uma. Duas. Três vezes. Então eu cansei das mensagens sem volta e conversas vazias, da unilateralidade de trocas e sentimento. Uma década de nós dois e tão rápido como começou, se foi como pó. Eu te confiei minha vida e você me apunhalou quando estava desprevenido, você dizia que eu era dramático, eu me sinto solitário e avulso.

Hoje, eu vivo com a ideia de você, daqueles dias em que éramos complementares e sem problemas na superfície. E se vierem me perguntar vou contar a versão do nosso mundo, das trocas de mensagens nas madrugadas, das pulseiras combinando que usamos uma única vez, até da faísca de amor que achávamos ter surgido e nunca comentamos um com o outro. Eu vivi preso nesses dias e busquei desesperadamente voltar ao que éramos antes.

Eu não sou forte como todos dizem. Se você for apenas mais um capítulo da minha vida, eu sempre vou voltar e reler e reviver aquilo que fomos um dia. Eu preciso te apagar para não chorar mais vezes do que já choro pela falta daquilo que não posso mais ter. Um dia eu vou me convencer que você já não se importava mais e meu coração não vai errar as batidas com sua presença inconstante.

Que dor eu sinto em saber que já passou tempo demais e nós dois somos um caso perdido.