DEVANEIOS QUE QUASE DESTRUÍRAM UM CASAMENTO DE 45 ANOS

O verdadeiro amor pode existir a vida toda e até eternamente para quem acredita na vida após a morte. O casamento e a promessa de amor até que a morte os separe é suficiente para a permanência desse nobre sentimento? Essa combinação casamento/amor será realmente uma prova de que a união será mantida até o fim? Muitos casamentos são pautados pelo sentimento de posse e escravidão, principalmente quando a mulher é dependente financeira do homem, o que não deve ser aceito. Almas gêmeas podem até existir, mas é difícil encontrá-las. A persistência, porém, pelo lado certo do relacionamento é de fundamental importância para o casal.

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   Regina era uma menina alegre, expansiva, estudiosa e responsável, olhava o mar tranqüilamente em Boa Viagem quando um rapaz passou e fixou seu olhar nela. Um sorriso, apenas um sorriso foi o suficiente para ela detectar que ele lhe interessaria. Sorriu também como agradecimento, ele prosseguiu seus passos mas lá na frente parou. Regina apenas o olhava com ar de felicidade, poderia surgir ali algo inesperado para uma moça de apenas 14 anos. Ele voltou bem devagar, aproximou-se e cumprimentou-a com um "olá" que foi correspondido com outro. Nascia ali um flerte. Ricardo era o seu nome, tinha apenas 15 anos e sonhava com a felicidade de ter um par para alimentar esperanças e dias melhores. Ele achava que estava precisando, coincidentemente ela também almejava isso. Aí foi só o começo, conversaram um pouco e marcaram para se encontrarem.

   Anos se passaram, o namoro de Regina com Ricardo progrediu, noivaram, casaram, tiveram filhos, a convivência deles era excelente, era como se um tivesse nascido para o outro, nenhum problema sério no campo doméstico, exceto algumas pequenas discussões simples que não davam em nada, faz parte da vida. Formavam um casal feliz e realizado, Regina era uma bela e elegante mulher que acompanhava o marido em festas e reuniões, Ricardo era o único homem que tinha entrado na sua vida, eles se entendiam e se satisfaziam, um se declarava com freqüência para o outro, viviam intensamente a realidade, praticavam sexo com bastante freqüência, essa coisa de fantasia não existia, não tinha cabimento, facilidades para traição não faltaram para ambas as partes, mas até então tudo ia dentro do respeito mútuo.

   Trinta anos de casados, os filhos (um casal) já bem encaminhados e casados, cada um com sua residência fixa e com filhos, uma paz na família que não tinha tamanho. O tempo ia passando e ela já não se sentia tão jovem assim, ele também, ambos estavam envelhecendo e se resumiam somente a essa vida de casados e da felicidade que viviam. Mas ela imaginava se era somente isso o que representava a sua vida, como seria se não tivesse conhecido Ricardo e sim outro homem bem diferente dele? Será que seriam felizes como estava sendo agora? E se houvesse uma separação por algum motivo como reagiria, já que só conhece a felicidade com esse marido atual? Fantasias começaram a povoar sua mente, porém tudo em absoluto segredo, amava o marido e não queria magoá-lo. Acabou esquecendo tudo, não passavam de bobagens.

   Mais alguns anos se passaram e muitas vezes se pegava sonhando com um amor desconhecido, depois de tantos anos esse pensamento lhe assaltava, tinha vontade de esquecer isso, mas ao mesmo tempo uma fantasia pairava sobre sua cabeça, era como se algo insistisse para tirá-la da sua realidade e a empurrasse para um mundo diferente onde também o amor habitava, o que a deixava um pouco confusa, porém ciente de que não deveria correr riscos desnecessários. Se ela, Regina, era feliz, por que sair em busca de algo fantasioso? Só para conhecer como seria o outro lado de um suposto amor? Não. Não valeria a pena.

   Certo dia ela encontrou nas redes sociais um antigo colega de trabalho, começaram a conversar e trocar mensagens, eram muitas mensagens e Ricardo de nada estava sabendo, Regina preferiu poupá-lo desse assunto, tratava-se apenas de um velho amigo do tempo quando ela trabalhava e logicamente não iria se interessar sexualmente por ele, era apenas uma amizade que foi reativada. Ele falou que sentia muitas saudades dela, que sempre foi uma pessoa atraente e que gostaria muito de vê-la novamente depois de tantos anos. E aí marcaram de se encontrar. Regina então inventou para o marido a ideia de uma reunião com amigas e queria ir sozinha. E foi se encontrar com esse amigo de nome Antônio. Sabia que ele era uma pessoa legal, que na época era muito bonito e charmoso, mas que na atualidade continuava sendo aquele homem de antes, apenas mais velho e com cabelos grisalhos. Regina já estava com 62 anos, mas não parecia, qualquer um poderia lhe dar uns 55 a 58 anos de idade, dada a sua elegância e ao seu corpo escultural. Já Antônio contava 65 anos, mas era vistoso e também não aparentava ter essa idade. Estava desquitado, mas ela cientificou-lhe da sua situação de casada e bem casada. Entusiasmada e cheia de vontade compareceu ao local combinado. Seu coração batia acelerado quando se aproximou do restaurante local do encontro, quando viu Antônio não se conteve e o abraçou com o carinho de uma amiga quando revê um amigo que não o tinha visto há muitos anos, isso é normal em qualquer pessoa. Mas Regina sentiu algo diferente nesse encontro premeditado, os frutos daqueles pensamentos antigos sobre fantasias voltaram a lhe povoar a mente, ela se sentia como uma menina que acabava de encontrar um rapaz bonito para ser seu namorado. Uma estranha felicidade invadiu sua alma. Entraram no restaurante e foram para um local reservado, não quiseram comer nada, apenas tomaram um drink e conversaram sobre o passado, sobre o tempo quando trabalharam juntos. As mãos de Antônio estavam sempre procurando as mãos dela sobre a mesa, que não reagia e deixava serem acariciadas. Seu pensamento, de repente, era no marido, como ele reagiria vendo essa cena? Pensou em sair correndo dali pedindo desculpas ao antigo colega de trabalho, mas aquela vontade de ficar foi mais forte e instintivamente também afagou as mãos dele, recuando em seguida. Ele pressentiu a fraqueza emocional dela e percebeu que seria uma presa fácil. Pediu a conta e disse para Regina que iriam a um lugar romântico onde só cabia o amor. Regina sorriu, mas foi aquele sorriso meio amargo e saíram dali. Antônio então beijou-lhe a face, entrou no carro dele e em seguida deu partida, mas Regina estava inquieta, aqueles pensamentos sobre fantasias amorosas voltaram a todo vapor para lhe assaltar a mente já enfraquecida, um torpor lhe tomou conta momentaneamente, mas a sua força de vontade foi maior, pediu para que parasse o carro, pois queria descer. Chegou a conclusão que um casamento que já durava 45 anos não podia ser manchado por uma infidelidade. Depois de muita insistência dela ele parou o carro, ela desceu apressada e chamou um táxi que estava passando na hora. Embarcou e pediu que o motorista fosse bem rápido dando o endereço de sua casa. Quando adentrou a sala Ricardo estava no sofá vendo tv e a sua espera, estranhou a rapidez com que chegara e a abraçou amorosamente. Regina deixou rolar algumas lágrimas, mas disse para ele que a saudade lhe invadira o peito e que não suportava estar fora dos braços dele mesmo em companhia de amigas. Após um relaxante banho foram dormir e fizeram amor com muita intensidade. No dia seguinte ela tratou de bloquear Antônio nas redes sociais e esquecer essa amizade que com certeza destruiria seu casamento.

Moacir Rodrigues
Enviado por Moacir Rodrigues em 02/07/2022
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