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FRAGILIDADES DO SEXO FORTE (CONCLUSÃO)
Para melhor perceber a trama é conveniente ler previamente a primeira parte, que foi publicada a 10 de Abril último.
A semana esgotou-se rapidamente e o tão ansiado sábado chegou… Há dias que Carlos não conseguia controlar a ansiedade, o nervosismo,
Nessa manhã, ainda tentou ensaiar uma desculpa de última hora para evitar o encontro com Sirlene, mas o seu orgulho fê-lo desistir. Amava-a mas ao mesmo tempo sentia-se confrangido na presença dela, daí apenas terem falado ao telefone e uma única vez, pelo menos nos últimos tempos.
Saiu cedo de casa para fazer as compras da semana no mercado da zona. Casualmente, encontrou Rui também a sair de casa, e como o destino era o mesmo, caminharam conversando despreocupadamente. Carlos esteve quase a confidenciar ao amigo o ter vacilado no encontro com a irmã dele mas reprimiu essa tentação, o seu amor-próprio controlou a fraqueza.
Compras feitas, regressaram pelo mesmo caminho e às tantas Carlos perguntou ao outro se achava bem levar qualquer coisa à irmã, por exemplo umas flores. Rui sorriu perante a ingenuidade de Carlos.
- Acaso vais pedi-la em namoro? Levas anel? - e desatou a rir-se, o que deixou Carlos desconfortável.
- Já percebi que apesar da idade ainda estou muito verde nisto… Eu amo-a, já te disse…
- É, parece que sim… Mas a mim não tens de pedir nada. Ela é maior e vacinada, e se gostar de ti não sou eu que vos vou impedir de ficarem juntos, para mais sendo tu meu amigo… Acho que és demasiado tímido. No teu lugar já tinha conversado com ela, e há muito tempo. Ou pegava ou largava, entendes? Ficar na fila do ponto, à espera, não faz o meu número…
Carlos, visivelmente nervoso, despediu-se: - Bem, depois de almoço venho ter ao teu prédio, como vocês moram no mesmo, a volta é pequena.
- Está bem - e despediu-se, levando as sacolas de compras a baterem-lhe nas pernas.
Quase não comeu nada, o nervosismo não deixou… Escovou os dentes e deitou-se na cama, pensativo. Aliás, desde há bastante tempo que ela não lhe saía do pensamento… Sirlene… Conhecia-a e dado o aparente afastamento entre ambos, parecia mesmo uma desconhecida… Sentia um estranho calor sempre que ela lhe aflorava o pensamento… desde que dançaram, aquele corpo junto ao dele fazia-o subir às nuvens… mas como explicar aquele amor tão intenso e ao mesmo tempo tão estranho de repentino?
Entretanto as 14 horas chegaram e ele levantou-se rapidamente, vestiu o casaco e saiu de casa. Ao longe vislumbrou Sirlene junto à porta do prédio onde habitava, estava sozinha, a aguardá-lo.
Ele chegou junto e ela estendeu-lhe a mão, cumprimentaram-se.
- Tudo bem consigo?
- Sim, a semana correu rápida. Esperou muito tempo?
- Não, de todo. P'ra aí umas 3 horas... - Ele ficou surpreendido com a pilhéria dela, mas Sirlene logo atalhou:
- Não fique surpreendido com este meu bom humor... Sou assim, de luas... - E riu de novo...
- Vamos ali à pastelaria Mexicana? É a que fica aqui perto e também é boazinha...
- Pode ser, já almocei mas ainda tomava um café e comia um pastel de nata.
Caminharam silenciosos, como se fossem dois estranhos. Ele olhava-a de soslaio, ela também, ambos disfarçavam quanto podiam. Carlos percebeu que ela também estava nervosa, o que o surpreendeu, Sirlene sempre se mostrara muito segura de si.
Estava calor, resolveram ficar na esplanada, Carlos arrependeu-se de ter trazido o casaco. Tirou-o e dobrou-o sobre uma cadeira.
Ao fim de algum tempo em silêncio, ela iniciou o diálogo.
- Carlos, seja sincero, porque me convidou para sair?
Ele ficou mudo, apanhado de surpresa, gaguejou…
- Eu… eu convidei-a porque não me sai do pensamento - de facto desde que Sirlene ficara viúva, há quatro anos atrás, que ele sentia algo de forte por ela.
Sirlene olhou-o e percebeu a sinceridade na voz dele. Sorriu, mas num tom diferente, acompanhado de um olhar meigo, que ela nunca vira antes.
- Sabe, eu também simpatizo consigo e muito, pode crer. Algumas vezes, de forma discreta, sondei o Rui mas ele, mano protetor, nunca se alongava com conversas sobre si. E você sempre assumiu um ar distante...
Carlos sentiu o coração bater muito acelerado. Então ela também se interessava por ele? Mesmo que fosse só um bocado, depois de se conhecerem melhor, talvez o amor se afirmasse...
Sirlene olhou-o fixamente e pousou a mão na dele. Ambos coraram e Carlos, afoito, entrelaçou os dedos nos dela.
- Você é o meu sonho tornado realidade… cada dia que passa a Sirlene preenche o meu pensamento e faz-me sentir muito bem, acredite. Acho que a amo...
- Querido… Não me é indiferente, mas vamos com calma, sim?
Entretanto o empregado trouxe os cafés e os bolos e tal foi propício ao momento.
- Uma doçurinha vai sempre bem… - e Sirlene sorriu da piada. Comeram com satisfação e ficaram ali, conversando, nem dando pelo tempo passar...
Ao final da tarde foram andando para casa, ela deu-lhe o braço e ele sentiu que afinal era correspondido. Caminharam lado a lado até à porta dela e despediram-se com um beijo na face.
Aquele dia ficaria marcado na vida deles. Progressivamente foram ficando mais íntimos, Rui não teve dúvidas que namoravam quando foram todos juntos ao cinema, ele com a esposa e o parzinho romântico, na altura já não escondendo o seu afeto, todo beijos e sorrisinhos...
Ele então confrontou a irmã com a situação e ela confirmou, que gostava muito dele, que já se lhe entregara várias vezes, em casa dela pois ele tinha muito respeito à mãe, e que estavam a pensar viver juntos, seria em casa dela. A mãe de Carlos ainda não era dependente mas um dia, se fosse necessário, arranjariam uma cuidadora para a acompanhar…
Rui suspirou e deu um largo sorriso de satisfação pois juntara o útil ao agradável: sua irmã e seu melhor amigo vivendo juntos, parecia um sonho…
A ligação de Carlos e Sirlene durou muitos anos, sobrevivendo à mãe dele. Logo de início adotaram uma criança, uma menina órfã, Ana Carolina, que se revelou muito meiga, e viram-na crescer e tornar-se uma bela mulher. Claro que Rui, não tendo filhos, foi o padrinho.