Rifa para fazer a festa surpresa da professora

Era o meu terceiro ano letivo , em uma escola que ficava situada num lugar de difícil acesso, mais precisamente, na Baixada fluminense.

Eu, estudante universitária, de uma universidade particular, situada na zona Sul do Rio de Janeiro, fazia um enorme trajeto de ônibus , todos os dias ,para chegar à essa escola.

Apesar de estar lá há três anos, já havia me familiarizado com o corpo docente da escola e já conhecia bem as dificuldades que nossos alunos, também , enfrentavam pra chegar à escola e principalmente, pra estudar. Era uma batalha diária contra as condições precárias de trabalho, a distância e a extrema pobreza de nossos alunos.

E foi ,exatamente, no ano de 1988, que eu pude vivenciar uma situação , que jamais poderia imaginar em viver, com uma das turmas que eu lecionava. Digo uma das turmas por que como havia falta de professor na escola, 9constantemente, nós éramos obrigados a dividir o horário pra atender a duas turmas. Isso ,pra quem lecionava para o antigo primário, que era o meu caso.

Estávamos no finalzinho de setembro , quando pude perceber uma agitação e cochicho entre os alunos da classe. Eu chamava a atenção , perguntava se havia algum problema e nada de concreto pra justificar aquele zum zum em sala de aula.

Mais perto do dia 14 de Outubro, começaram a me perguntar se eu viria a escola. Eu dizia que sim e pronto.

Dia 14 de Outubro, estava eu na escola, apreensiva e pensando como ir embora. Isto por que estava armando um temporal daqueles , as ruas todas enchiam , ficava impossível e perigoso transitar por lá. Pois bem, entrei na sala e me deparei com os alunos em volta de uma mesa com bolo e refrigerantes. Era uma festa surpresa ,para mim ,do dia do professor. Fiquei emocionada, é claro. Mas o que me deixou intrigada era como haviam arrecadado dinheiro pra fazer a festinha.

No dia seguinte, ao escrever no quadro ,escutei uma aluna falando que a colega da sala havia arrecadado um bom dinheiro na rifa de seu bichinho de pelúcia que ganhara de seu pai e que por isso, conseguiram comprarbolo e os refrigerantes. Aí, partiram meu coração . Tamanha demonstração de carinho por uma professora, não? Nunca esquecerei desse episódio. Pena que, naquela época , não havia o smartfone, pra registrar a festa surpresa e salvar, cada rostinho, em minhas lembranças .

Mabel Junger
Enviado por Mabel Junger em 08/05/2022
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