ELA DESAPARECEU NAS NUVENS

   Meu sonho de amor começou quando eu tinha apenas quinze anos, eu era um menino aparentemente bobinho, não tinha a mínima noção do que era realmente o amor, mas eu mesmo criei uma realidade para mim, não sei se era a realidade das outras pessoas com relação ao coração. Eu era um adolescente sonhador, gostava de imaginar coisas, minha mente guardava uma porção de lembranças da infância, das peraltices e dos ternos momentos com meus pais. Eu misturava tudo, escrevia alguma coisa em diversos papéis e os guardava. Me sentia uma pessoa importante, já adulta, tomando decisões em prol de um país inteiro e conhecedor do mundo. Foi aí que descobri uma garota que passou a ser minha vizinha, casas conjugadas, um encanto de pessoa, apesar de sua pouca idade, somente treze anos. Não tinha lhe dirigido ainda qualquer palavra, mas fiquei completamente apaixonado por ela. Seu nome era Suzy e tinha os olhinhos esverdeados, seus cabelos eram ruivos e seu sorriso encantava qualquer cristão. Fiquei encantado e apaixonado por essa pessoinha. Nosso primeiro contato foi na tarde do dia seguinte a sua chegada, nos cumprimentamos cordialmente na presença de nossos pais que logo se tornaram amigos, para mim foi uma maravilha. Suzy porém era muito discreta, ficava a maior parte do tempo dentro de casa, as vezes no seu quarto, momento em que do jardim dava para vê-la através da janela entretida com livrinhos de histórias infantis e com bonecas. Eu apenas a observava com bastante discrição.

   Dois anos se passaram e esse amor cada vez mais aumentando, me sufocando e nós dois apenas como bons amigos de poucas conversas. Esse tempo todo nunca tinha entrado em sua casa, só apenas ficava no portão para uma rápida conversa. O coração ficava aos pulos quando ela se aproximava de mim e quando ela se afastava vinha o sofrimento e uma falta de coragem para encarar essa criatura e falar sobre o meu sentimento. Muitas vezes tentei, imaginava o que deveria dizer, mas na hora H vinha a desistência, essa covardia que depois me deixava triste. Ficava com raiva de mim mesmo por não ter coragem de declarar o meu amor. Todo esse tempo e a gente só se olhando, nem um toque nas mãos, um abraço ou um simples beijinho, tudo isso estava ali ao meu alcance, mas ao mesmo tempo se tornava impossível, era como se tivéssemos um longe do outro, uma verdadeira tortura.

   Eu agora estava com dezenove anos e ela com dezessete, já estávamos bastante crescidinhos para uma tomada de decisão, era tudo ou nada, ia depender unicamente de mim, de tomar uma decisão, de tomar coragem e declarar o meu amor. Suzy me olhava de uma forma bem sutil, talvez nem sentisse no peito o que eu sentia no meu, era impossível que ela não entendesse o meu apelo. Mas eu tinha que tentar, tinha que fazer ela saber que eu a amava loucamente e queria que esse amor vingasse e que acabássemos de vez com essa intransigência dupla. E numa noite linda de lua cheia eu cheguei bem perto dela no portão de sua casa, olhei fixamente para seus olhos e perguntei: você quer namorar comigo? Ela me olhou com olhos arregalados e um tanto surpresa respondeu: e por que não? Ato contínuo e sem mais uma palavra nos beijamos com intensidade, um beijo de cinema. Nosso primeiro beijo. Pronto! Acabou-se a nossa novela e a partir desse momento formamos um casal apaixonados um pelo outro.

   Durou pouco tempo o nosso romance, Suzy foi acometida de uma doença misteriosa e foi internada em estado grave, foi assim uma coisa fora do comum e isso partiu meu coração. No dia que ela completou dezoito anos estava em uma sala de UTI em coma profundo e, segundo os médicos, sem possibilidade de melhora, só um milagre a tiraria dessa situação. Meus olhos se encheram d'água, minha angústia aumentava a cada dia e meu sentimento era de tristeza. Suzy representava tudo para mim, era Deus no céu e ela na Terra. Toda a família estava reunida no hospital, esperava-se um milagre, eu preferi ficar numa área ao ar livre onde pudesse olhar o céu e implorar pela sua recuperação. Ao lado da sala onde ela se encontrava existia um jardim e ali permaneci por várias horas chorando, não agüentava ficar olhando ela através de um vidro naquela sala de UTI, totalmente imóvel. O céu estava estrelado, a lua cheia clareava aquele jardim onde no momento somente eu estava e em prantos. Nisso eu vi um facho de luz que saía da janela da sala onde Suzy estava e aos poucos ia se materializando um corpo que eu bem conhecia. Aquele corpo subia lentamente e me acenava. Meu choro cessou por um momento diante daquela maravilha que me era apresentada. Ela subiu mais ainda envolta em uma luz azulada e desapareceu nas nuvens. Voltei para dentro do hospital, na recepção todos choravam por essa grande perda.

Moacir Rodrigues
Enviado por Moacir Rodrigues em 08/05/2022
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