UM AMOR QUE FOI ENCONTRADO LÁ NO PASSADO

   Leila não era dessas garotas da modernidade, não tinha sonhos e nem almejava um príncipe encantado para casar e ser feliz, ela simplesmente deixou o tempo passar e viveu a vida como toda jovem deveria viver, longe dos descontroles emocionais, da convivência desenfreada com o mundo moderno e se concentrando no prazer da leitura e da obediência divina e respeito aos pais. Era tida como cafona e que não acompanhava o desenvolvimento social, mesmo sendo formada em Pedagogia e tendo um emprego estadual que lhe rendia um bom salário, Leila era alheia aos objetos de última geração, seu aparelho celular era de um modelo simples e isso lhe bastava para acessar a internet. Desde jovem acostumara-se a fazer anotações em caderninhos que guardava com todo zelo e cuidado, era uma espécie de diário pessoal que começou a ser escrito quando ela tinha apenas treze anos. Hoje beirando os quarenta anos de idade não conseguiu encontrar o seu verdadeiro amor, porém isso nunca a tornou uma pessoa infeliz, mesmo diante de um casamento fracassado em que descobrira a falta de respeito por parte do marido. Apenas uma filha que já estava com quatorze anos era a sua companhia inseparável e que normalmente ficava com sua mãe quando precisava trabalhar ou sair para resolver alguma coisa.

   Antes de casar-se nossa personagem teve alguns namorados, mas nada que não passasse de um simples relacionamento sem grandes pretensões. Quando conheceu Cláudio ela namorou com mais firmeza e com ele se casou, não houve muito interesse da parte dela em oficializar logo esse enlace, mas como ele insistiu ela terminou aceitando. Da união nasceu Sheila, ocasião em que as coisas começaram a desandar e o casamento esfriou. O que ela descobriu depois foi motivo para a separação, uma infidelidade Leila não aceitava e nem perdoava.

   Dois anos se passaram e ela não arranjou ninguém, preferiu a convivência com a filha e a mãe, além de mais dedicação ao seu trabalho como professora. Todos os acontecimentos de sua vida foram parar no seu diário, nada escapava e ela estava sempre relendo suas próprias anotações pessoais. Tudo era bem organizado e elaborado por datas, era um verdadeiro arquivo de fatos sobre a sua vida a partir dos treze anos. Leila guardava até bilhetinhos dos antigos colegas de escola e um lhe chamou a atenção, justamente um que ela achava que havia se perdido e se encontrava dentro de uma antiga agenda. Tinha uma frase que dizia assim: "Leila, eu adoro você, a gente podia namorar, casar e ser feliz. Mesmo que você não queira, um dia a gente vai se encontrar quando estivermos bem mais velhos". Isso deixou Leila impressionada, ela nem mais lembrava desse fato. O bilhete estava assinado por Henrique, nome que lhe veio a mente depois de muito matutar sobre os antigos colegas de classe. Na época ela devia ter uns doze para treze anos e isso lhe comoveu profundamente.

   Passou-se algum tempo e mesmo assim essa lembrança sobre Henrique ficou martelando em sua cabeça, foi uma situação inusitada que ela levou na brincadeira e com o tempo passou para o esquecimento. Ela sempre que acordava pela manhã lembrava com carinho desse fato e sorria, se sentia como se estivesse no passado recebendo aquele bilhete. Saía para a escola geralmente às seis da manhã, tomava um ônibus até chegar no local onde lecionava. Ao adentrar o portão da escola esbarrou sem querer em um senhor que deixava seu filho ali, o que ocasionou um pedido de desculpa por parte dela. O homem desculpou gentilmente com um sorriso e ela entrou para dar início as suas atividades. No dia seguinte aquele homem lá estava deixando o filho, ela logo o reconheceu e sorriu, afinal aquela criança era seu aluno cujo nome era Henrique. Isso a fez lembrar do antigo amiguinho que lhe deu um bilhete. Sorriu sozinha. Um pensamento lhe veio a cabeça, procurou a ficha do seu aluno e seu nome era Henrique Filho. Um lampejo de felicidade inundou sua alma, imaginou aquele seu aluno sendo filho daquele menino do bilhete. Quiz sorrir com mais alegria mas se conteve. Na outra manhã, sabendo que o pai do menino ali estaria resolveu interpelá-lo discretamente. Durante a conversa descobriu o que tanto desejava: aquele homem se chamava Henrique e era o autor do bilhete que a deixou radiante quando casualmente o encontrou dentro de uma antiga agenda. Seu peito parecia que ia explodir de tanta felicidade e seu coração quase pára quando novamente descobriu que esse Henrique era viúvo. Ele ficou maravilhado com essa descoberta, lembrava nitidamente desse episódio na escola onde estudaram e uma forte amizade surgiu entre eles, amizade que com poucos dias se transformou em namoro, já que ambos eram livres e desimpedidos. Com o início desse relacionamento um passou a visitar o outro, a essas alturas Leila já estava completamente apaixonada e o mesmo aconteceu com ele. A evolução desse romance culminou com um pedido de casamento de Henrique, que logicamente foi aceito por ela. E os dois foram felizes por muitos anos.

Moacir Rodrigues
Enviado por Moacir Rodrigues em 02/05/2022
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