Sonhos passados
Eu estou solteira há muito tempo. Há muitos anos.
A última vez que estive com alguém, só com este alguém, eu pensei em um gato. Um cachorro também, grande que corresse pelo nosso quintal brincando com os passarinhos do lugar. Um cachorro que nos molhasse se sacudindo quando, aos sábados, tentássemos dar banho nele. Pensei em noites de filmes e comidas exóticas, aconchegos no sofá e guerras de pipoca. Sorvete de sabores diferentes se misturando no beijo. Então também teríamos brigas facilmente resolvidas, ele faria o café da manhã e eu lavaria a louça. Pensei em chegar do trabalho e ter um abraço quentinho me esperando, ou ter um beijo de recepção pronto para quando chegasse. Imaginei banhos juntos, depois uma discussão bem humorada de quem foi a culpa por perdermos a hora de manhã no chuveiro. Eu sonhei com amor, carinho e felicidade.
Então tive meu peito aberto e meu coração esmagado. Eu implorei por misericórdia, para que meu coração fosse arrancado de uma vez, mas ele foi esmagado. Rasgado. Quebrado.
Choque. Lágrimas. Dor e mais dor. A superação veio aos poucos, com as fisgadas no coração lembrando de cada golpe. De cada sonho deixado para trás.
Eu encontrei outras pessoas, mas eu não queria encontrar outras pessoas. Eu vivi, provei, dancei, me apaixonei e corri. Fugi. Então o vi, e senti como se seus dedos tivessem fios ligados ao meu coração, como se em um impulso pudesse arrancá-lo novamente.
Nunca mais senti aquele desejo novamente. Não sonho mais com casa, amor e conforto. Meu peito está cicatrizando, meu coração se ajeitando novamente.
Mas meus sonhos, estes não sei se um dia irão retornar.