FRAGILIDADES DO SEXO FORTE
Rui virou-se para Carlos e após muito pensar, falou:
- Sabes uma coisa? Nunca entendi porque é que com quase quarenta anos ainda estás solteiro…
Carlos retorquiu:
- Eu já tive algumas experiências amorosas, infelizmente mal sucedidas, inclusive tive o caso da Maggie, que à última hora faltou ao compromisso derradeiro…
- Eu sei, Carlos, e também sei que és boa pessoa, fiável e honesta. Tens um bom emprego, tal como eu, e és independente, sem outra família para além da mãe.
Fez uma pausa e continuou:
- Ainda na festa de aniversário da Luísa eu te vi a dançar com a minha irmã, a Sirlene… e vocês pareciam tão enlevados, ela com a cabeça no teu ombro… até pareciam namorados…
- Pois sim, gostei muito de dançar com ela, mas desde esse dia tem-me evitado sempre…
- Será? E tu, alguma vez tentaste falar com ela?
Carlos olhou-o com olhar triste e após um momento de hesitação falou:
- Tenho a confessar-te uma coisa muito séria, mas prometo que guardas esse segredo só para ti… eu amo a tua irmã, amo-a muito, desde há quatro anos, desde que ela ficou viúva… acompanhei o luto dela, pareceu-me que de facto não queria ter mais nada com os homens e inibi-me, sabes como sou tímido…
- É verdade, mais tímido que tu não conheço… acho que já perdeste oportunidades por causa disso… Mas… desconhecia essa paixão pela Sirlene…
- Sim, é verdade… adoro tudo nela, a beleza, os olhos, o cabelo, a boca, o todo… é a minha secreta deusa…
- Eh pá, o que para aí vai… não imaginava tal coisa… e mesmo assim tens vergonha de a procurar, de lhe transmitir os teus sentimentos?
Carlos olhou o chão e não respondeu.
- Homem, tens de ser picado para te aventurares? Olha, quem não arrisca, não petisca… a Sirene é a minha mana querida, tem a tua idade, é independente, vocês fazem um lindo par… então o que falta? Talvez mais arrojo da tua parte, né? Mas olha, sê verdadeiro, não a faças sofrer, caso contrário tens de te haver comigo…
O outro respondeu:
- Nem o número de telefone dela tenho…
- Bem, lá por causa disso não há obstáculos… Dá cá o telemóvel… - e pegando no celular do outro, escreveu o número da irmã. - Agora liga para ela…
- Mas… assim? Pode estar ocupada…
- Se estiver, não atende. Tentas mais tarde…
Entretanto ele digitou, atenderam do outro lado, uma voz muito agradável e meiga.
- Sim? Daqui fala a Sirlene… Quem está do outro lado?
Carlos ficou sem fala mas uma forte cotovelada de Rui fê-lo responder:
- Daqui fala o Carlos, o colega do Rui.
-Ah, já me lembro de si. Como está?
- Muito bem, obrigado. - Rui abanou a cabeça em sinal de reprovação.
- Então, há algum motivo para o seu telefonema?
- Bem, já há algum tempo que pretendia falar consigo…desde o baile, lembra? É…É que gostava de tomar um café com a Sirlene, numa esplanada nos arredores…
Ela não respondeu logo, o que fez com que Carlos ficasse com ar preocupado.
- Pode ser? - perguntou, ansioso.
- Claro que pode. Quando?
- No próximo sábado, a seguir ao almoço.
- Está bem…
- Posso passar à sua porta e depois acompanho-a.
- Ah… um cavaleiro andante… perfeito…- soltou uma risada - Bem, já não se usa… mas não desgosto, pode ser… Diga-me, como sabe onde eu moro?
- Mora no apartamento ao lado da casa do Carlos.
- Claro, esqueci esse pormenor.
- Gosto da sua voz.
- Verdade?
Carlos ficou com ideia de que ela estava a troçar dele.
Rui comentou em voz baixa: - Já começam os galanteios? Não te estiques, tá?
Carlos mandou-o calar com um gesto.
- Tchau.
- Tchau. - respondeu Carlos.
Depois de desligar, ele deu dois pulos de alegria, ao que Rui o invectivou…
- Já tens idade para ter juízo. Porta-te bem. Vou estar sempre de olho em ti, tá?
Rui olhou para o relógio de pulso e chamou a atenção do amigo:
- São horas de pegar no trabalho.
- Vamos, sim.
Nat King Cole - When I Fall In Love
https://www.youtube.com/watch?v=FI8JScRyYxc