Orquídea

Quando a conheceu, Floriano sentiu uma atração imensa por ela. Orquídea era a dona da nova loja de flores Orquídea Selvagem, que ficava bem na esquina, perto da praça principal da pequena cidade onde morava. Ele estava indo trabalhar e entrara na loja para comprar um jarrinho de violetas para a sua secretária que fazia aniversário, mas quando viu a proprietária, recém-chegada na cidade, apaixonou-se de imediato. Apresentaram-se, conversaram um pouco e, antes de sair com o jarrinho, ele lhe disse que voltaria depois para comprar uma orquídea, e saiu apressado para pegar seu ônibus. Ao chegar no escritório, entregou o presente à Dona Violeta, deu-lhe os parabéns e trancou-se em seu escritório. Tinha muito trabalho a fazer. Tentou redigir uma das petições que estavam sobre a mesa, mas sua atenção estava fixada na lembrança das mãos lindas de Orquídea (Que nome... era a própria flor!). Ainda podia sentir o perfume de seus longos cabelos acobreados, e a força de seu olhar sedutor... como poderia esquecê-la? No dia seguinte, ele foi à loja, antes de pegar seu ônibus. Tinha pesquisado um pouco sobre orquídeas e começou a conversar sobre elas, com a dona da loja, usando as informações que tinha obtido no Google. Saiu mais cedo do escritório, no outro dia, e foi lá na loja comprar uma orchidea phalaenopsis da cor magenta, conhecida também como orquídea borboleta, e colocou-a perto da janela, em seu quarto, onde havia luz suficiente, mas não batia o sol direto. À noite olhava sua orquídea e sonhava acordado com ela, a Orquídea de carne e osso. Aquela flor o intrigava... olhava-a com luxúria, pois ela lhe lembrava o sexo feminino, macio e entumecido que Orquídea deveria ter e lhe ofereceria um dia, com certeza... aquele era seu sonho recorrente. No sábado foi à loja, quase na hora em que as portas estavam se fechando, e convidou Orquídea para almoçar num pequeno e acolhedor restaurante, ali perto. Conversaram sobre orquídeas e sobre muitos outros assuntos durante horas. Quando ele a levou em casa, sentindo-se mais confiante, pois via que ela retribuía sua atenção, entregou-lhe um poema que tinha rascunhado, na noite anterior, pensando nela, mas pediu-lhe que só o lesse quando fosse se deitar. Já na cama, Orquídea tirou o papel do envelope e leu os versos:

Minha orquídea na janela,

Leva-me aos braços da minha bela

Orquídea que tanto desejo,

Cuja flor eu tanto almejo...

Nela darei tantos beijos,

Quando me conceder o ensejo

De desfrutar de suas pétalas rosadas...

Oh! Linda e sensual mulher amada,

Deixa-me ter tua flor...

A ti prometo carinhos eternos,

E todo o meu amor.

Quando acabou de ler o poema, achou, a princípio, que Floriano estava sendo muito ousado, mas depois pensou: somos adultos, não sou virgem, o que é que tem? Já estou separada há mais de dois anos, sem filhos, e meu ex só pensava em trabalho e farra. Tenho o direito de tentar ser feliz... depois, ele é tão gentil... e ficou excitada, relendo os versos de Floriano, tão lindos e provocantes...

Saíram por alguns meses e acabaram indo morar juntos. Ela ensinou a ele tudo sobre orquídeas e eles fizeram um orquidário no enorme quintal da casa dele, onde passavam horas cuidando das delicadas flores que começaram a comercializar, não só na floricultura, mas também pela internet. Ele passou a advogar menos... estavam tendo bons ganhos com as flores. Durante o dia trabalhavam muito. À noite, quase sempre se entregavam a um sexo florido e voluptuoso, pois, ao manipular as orquídeas, Floriano não conseguia pensar em outra coisa, a não ser nas pétalas da vulva úmida e rosada de sua mulher que o aguardavam mais tarde, na cama.

Num dia chuvoso, Orquídea disse que estava com um mal-estar estomacal e ficou na cama. Floriano teve que sair para fazer uns pagamentos e comprar mais mudas, mas ficou horrorizado ao chegar em casa, pois encontrou Orquídea caída no chão, sem vida... ela tivera um infarto fulminante. Dali em diante, ele viveu um luto que lhe tirava a vontade de viver, mas buscou no orquidário e nos negócios a força para continuar. Passaram-se três anos. Um dia ganhou de presente uma roseira e começou a se interessar por rosas, reparando que, tal qual as orquídeas, também elas tinham semelhança com a genitália feminina. Devotou, então, seu tempo às rosas e passou a cultivá-las, também, com entusiasmo. Numa tarde de março, quase na hora de fechar o estabelecimento, apareceu-lhe uma bela mulher loura que entrara para comprar flores para sua mãe, Dona Daisy. Queria margaridas, mas na falta destas, levou uma linda orquídea amarela. O encanto recíproco foi instantâneo e, quando se deram conta, já estavam morando juntos. Ela foi trabalhar com ele na floricultura, ajudando-o com o cultivo e a venda das flores. À noite, geralmente, faziam um amor perfumado e apaixonado. Floriano voltou a ser feliz. A loura chamava-se Rosa.

Ouvindo Johnny Stimson - Flower (Tradução & Lyrics)

https://youtu.be/iCN8liNbcbI