O AMOR RESSURGIU QUARENTA ANOS DEPOIS
Janete, esse nome fixou-se por muitos anos em minha mente, eu nunca consegui esquecer a figura que o representava, estava sempre presente em meus pensamentos desde o fatídico dia que nos separamos, o que me fez sentir muito. Fiquei angustiado e imaginando que tudo teria sido um sonho, que eu nunca teria conhecido aquela garota que muito me incentivou a aprender a amar, logo eu que não tinha a mínima ideia do que era amor. Para mim era somente atração física que existia e isso já era suficiente para duas pessoas se completarem. Se não desse certo o relacionamento era partir prá outro e pronto, tudo seria resolvido, tristeza estava fora do contexto e fim de papo. Assim eu pensava durante os poucos anos que namoramos, eu não conseguia entender bem o que Janete tanto me falava, meu pensamento estava bem longe, estava nos divertimentos que me eram peculiares, nas viagens que fazia no auge dos meus vinte e poucos anos, curtia tudo que era legal no âmbito da juventude, aquela juventude transviada que muito me empolgou e me transformou num cara que gostava de viver a vida ao seu modo.
Os anos foram se passando, aos poucos eu fui então compreendendo o que era o amor, o verdadeiro amor, aquele que une duas pessoas pela afeição com reciprocidade. Nunca mais vi Janete, ela desapareceu completamente da minha vida, justamente num momento em que eu começava a compreender o que era amar. Tentei inúmeras vezes localizá-la, porém sem êxito, isso no entanto só me fez sofrer mais e eu sei que fui o único culpado dessa situação. Gostei de uma jovem que tinha o mesmo nome da outra e isso me causou um atrapalho, o que ocasionou nova separação, já que eu confundia as coisas e ela acabou descobrindo o meu drama. Mais uma vez sozinho tentei uma outra oportunidade para continuar vivendo em paz, apesar do meu pensamento estar naquele primeiro amor, aquele que poderia ter mudado a minha vida, mas até que ela tentou, eu que não soube entender o que ela sentia e o que poderia aprender, quando dei fé era muito tarde.
Apesar de tudo eu consegui me firmar na vida, tive sorte de arranjar um bom emprego e uma esposa excelente que me deu dois lindos filhos. Compramos nossa casa e colocamos nosso casal de filhos em um bom colégio. Eu já estava então com meus quase sessenta anos e vocês não imaginam o que aconteceu comigo. Eu trabalhava na área de engenharia civil e fui designado para uma obra em outra cidade onde teria que ficar por alguns dias, talvez até mais de um mês. Atendendo a solicitação da empresa dei início ao meu trabalho e me hospedei em uma pousada próxima da obra, íamos dar início a construção de um conjunto residencial de luxo. Os padrões técnicos tinham que ser de primeira classe e até uma arquiteta foi designada para essa mesma obra. Dois dias depois da minha chegada fui chamado ao escritório do encarregado da obra para que me apresentasse a Dra. Janete para juntos trabalharmos na parte de arquitetura do conjunto. Quando ouvi esse nome meu coração pareceu saltar do peito, toda aquela minha história veio a tona e eu me senti completamente atordoado. O encarregado perguntou se eu estava me sentindo bem e eu menti dizendo que foi um pequeno mal estar. Mesmo assim me apressei para chegar ao local que ficava em outra sala, próxima ao portão de entrada do canteiro. Em lá chegando vi uma bela mulher que me recebeu muitíssimo bem, porém me olhando dos pés a cabeça. Permaneci sério e contendo a minha emoção, não restava dúvida, era aquela mulher que eu tanto desejei ter encontrado depois que nos separamos naquela época de nossa juventude. Era Janete, a mulher que sempre me amou e eu nunca lhe dei o prazer de também lhe amar. A princípio ela apenas sorriu para mim, aquele mesmo sorriso que eu conhecia e agora estava usufruindo dele. Ela pegou a minha mão e me pareceu que estava me puxando para os seus braços, mas foi tão somente uma cortesia feminina e de apresentação. Aqueles poucos segundos segurando sua mão foram para mim como uma eternidade, minha vontade era de não mais soltá-la, mas senti que ela precisava se safar disso, é lógico. A sorte é que estávamos só nós dois na sala e em breves minutos confirmamos que já nos conhecíamos. Para mim foi um momento mágico e ela sabia disso ao me olhar fixamente como a perguntar por onde andei e por que não aceitou o seu amor. A parte técnica ficou a parte, tratamos de "nos encontrar" e falarmos de nós, do nosso antigo amor. Tratamos do nosso assunto de trabalho paralelamente ao nosso caso, notei que ela ficou "sem jeito" quanto ao seu lado, mas por insistência minha marcamos para tomarmos um café depois do expediente e ela aceitou, o que muito me envaideceu.
Na hora combinada lá estávamos nós, um diante do outro, em uma lanchonete próxima do canteiro de obras. Nossas mãos se encontraram e agora ela entendia o que eu sentia, um sentimento que mesmo atrasado estava lhe fazendo bem (e a mim também, claro). A noite caiu e precisávamos sair dali, a seu pedido fomos para a pousada onde ela estava hospedada e que por coincidência era a mesma onde eu estava. Fomos direto para o seu quarto e lá tudo aconteceu assim de repente sem planejarmos. Nos abraçamos, nos beijamos e nos sentimos como aqueles dois adolescentes de quarenta anos atrás. A magia tomou conta de nós dois e nos amamos como duas criaturas necessitadas de sexo, de muito sexo. A noite foi pouca para tirarmos todo o atrasado, o tesão era imenso e nos amamos até o dia amanhecer. Quando o sol raiou contamos nossas histórias e por incrível que pudesse parecer nós éramos casados, eu tinha minha esposa e ela tinha o seu marido, mas desfrutamos de um amor que não vivemos com intensidade e agora regado a sexo, diferente daquele tempo passado. Nos encontrávamos todas as noites depois do serviço, ora no seu quarto, ora no meu, até o dia do final dos trabalhos quando decidiríamos o que fazer com nossas vidas.