Ertismos II
Entraram ambos. Era mínima a luz coada da rua. Um ou outro ruído de motor e, a cada três minutos, uma cor viva do néon exterior. Calados, nenhum ousou falar, mexer-se, tocar. Todas as alterações se adivinhavam nos olhos, na pele suada, no ingurgitamento das veias, na febre que os tomava sem que gerasse força, movimento. Escutavam os respectivos corações e, ainda silenciosos, despiram-se. A nudez tapava-se de sombras e uma vez ou outra surgia em cor intensa, irreal.
No escuro estenderam as mãos. Raspavam-se os dedos, liam, em jeito de asa, a excitação do outro. Depois, lentamente, avizinharam-se os corpos, a respiração tornou-se ofegante, as bocas uniram-se.
Não havia cama, nunca houve palavras e todos os sussurros se entrecortavam de energia, de gemidos que misturavam dor e prazer. Depois, cada um se aprontou e saiu, mole, ainda anónimo, desgrenhado. A festa, com muito álcool, fazia tremer de excitação os iniciados.