Apenas, vida!
Presa às colunas de ipê tratado, que suportava a cobertura de telhas de argila queimada da varanda e se estendia por toda a frente do casarão, rangia a rede trançada com fios de algodão, brancos como as nuvens daquele céu. Seu balançar de vai e vem, pra lá e pra cá, davam movimento aos seus longos cabelos, que dançavam soltos, tentando se contrapor aos balanços ritmados.
As tardes mornas que se alongavam, prenunciando noites de céu estrelado, faziam jus ao quadro de chão verde, dos vastos campos cultivados que se estendiam muito além da porteira, apenas cortados pela estrada de terra batida que se esgueirava aos pés dos morros, onde ao anoitecer o sol se aninhava para dormir.
Quanta paz inundava estes momentos. Quanto amor se embalava naquela rede. Quantos sonhos de futuro, quantas esperanças brotavam junto às sementes daquela terra, adubada assim como era o meu coração.
As horas passam e se aglomeram, formando os dias, que se se transformam em meses, anos e assim em vidas...
Hoje, já não ouço mais o ranger da rede. Seus cabelos estão curtos e não mais carregam sua cor, brilho e balanço de antes. Ainda os acho lindos. As sementes germinaram e geraram colheitas. O sol agora dorme atrás dos edifícios, tentando se esconder do barulho da grande cidade.
Alguns sonhos se tornaram realidade, outros ainda sobrevivem, fantasiados de esperança. Muitos não resistiram ao passar dos anos.
No coração, a semente do amor vingou e hoje é uma árvore frondosa, que gerou frutos. Nela, gravei seu nome, para que o tempo possa sempre se colocar, como testemunha ocular, desta história...