Um Pro Outro

Nós estávamos deitados naquela cama em absoluto silêncio, nossos corpos nus e colados como se nossa pele se unisse num beijo de caudalosos desejos. Toda ansiedade, toda insegurança de antes se transformou em relaxamento e sensação de prazer e leveza.

E então ele se colocou sobre mim e me beijou com carinho sem fim e a dança do amor recomeçou calmamente, num ritmo de pura paixão e uma infinita vontade de se dar.

Era a nossa primeira vez e a insegurança de não sabermos conduzir a situação nos deixava ansiosos. Mas o instinto e o desejo nos conduziu

Sabíamos que dali pra frente teríamos muito tempo pra aprender a nos tocar, nos desbravar, conhecer nossos desejos, nossos corpos e nos dar o pleno prazer.

Essa noite pra sempre ficaria marcada em nossa memória e em nosso coração. Aquele momento foi tão esperado e sonhado por nós e foi tão lindo. Iniciava ali a nossa união, a nossa vida. Apesar de jovens nós agimos como dois adultos que que têm certeza do que estão fazendo.

Passamos a noite ali juntos, abraçados desfrutando daquela sensação de felicidade e prazer, de alegria e amor.

Saul e eu nos conhecíamos desde crianças. Fomos criados praticamente juntos. Sempre nos demos bem e onde quer que nos encontrássemos sempre estávamos juntos, brincando, conversando ou simplesmente nos olhando.

Fomos criados como primos. Minha tia, irmã de meu pai e o pai de Saul ficaram viúvos quase na mesma época e ainda jovens. Eram amigos há muito tempo. Um tempo depois se casaram. Saul tinha então seis anos. Eu tinha nove.

Nós fomos crescendo nesta convivência familiar, mas desde cedo sentíamos que entre nós existia muito mais que o amor de primos.

Muitas vezes negamos este amor por sentir que não era muito certo. Nós sempre tivemos os mesmos gostos. Sempre fizemos planos de fazer tudo juntos na vida. Ele sempre foi um menino muito sensível, sempre gostou de escrever e fazia desenhos e pinturas incriveis. Sempre foi muito talentoso.

Fomos crescendo e o nosso amor também. No entanto nunca ousamos assumir este sentimento.

Aos dezoito anos eu sai de nossa cidade para estudar. Nós já tínhamos decidido que faríamos engenharia química. Como eu era três anos mais velha que ele eu comecei o curso antes.

Quando ele iniciou o curso, com dezoito anos e eu já tinha cursado mais da metade. Começamos a nos encontrar, agora longe de nossas famílias. A princípio ainda tímidos e temerosos de assumir aquele amor que nos unia. Nenhum dos dois nunca havia namorado, como se estivéssemos nos guardando um pro outro.

O primeiro beijo foi um tanto desajeitado. Aos poucos fomos tendo certeza do que queríamos e que aquele amor era sincero e verdadeiro.

Daquele primeiro beijo até o dia em que perdemos juntos a virgindade, passou quase um ano. Tínhamos medo. Estávamos inseguros. Não sabíamos como nossas famílias reagiriam já que fomos criados como parentes.

Por fim, o amor e o desejo falaram mais alto. E ali estávamos mais certos do que nunca que nascemos um pro outro.

Juntos contamos para nossa família que estávamos namorando e que nada poderia mudar isso. Meu pai recebeu a noticia com alegria. Ele sempre quis a felicidade dos filhos e sabia que éramos responsáveis. Minha mãe, apesar de ser ainda bastante jovem era bastante conservadora por causa da criação que teve, e a princípio não aceitou muito nosso namoro. Mas por fim soube que jamais iríamos nos separar.

Minha tia e o pai de Saul, que sempre gostaram de mim como uma filha, ficaram felizes.

Juntos cursamos a faculdade e embora eu tenha me formado antes, estive com ele até a sua formatura.

Juntos criamos um indústria química. E fomos bem sucedidos.

No tempo certo, nos casamos. Tivemos nossos filhos. Constituímos nossa família.

Hoje muitos anos depois, permanecemos juntos e apaixonados. Estamos envelhecendo juntos.

Sei que não existem muitos casais, muitos amores como o nosso. Fomos brindados, agraciados com o amor que não se acaba. Mas fazemos a nossa parte e cultivamos dia a dia o nosso amor.

Pela vida afora aprendemos a nos conhecer mais e mais, a nos dar mais prazer e amor, a nos respeitar a cada dia. Não imagino minha vida sem ele e sei que ele também não imagina a dele sem mim.

Nós nos bastamos, nós nos amamos.

Nós fomos feitos um pro outro e só.