Flores Na Janela
Acordei entediada naquele domingo. O tempo parecia não passar. Espreguicei preguiçosamente nem querendo levantar da cama. Olhei pela fresta da janela e o dia parecia ensolarado. Pulei da cama pensando em fazer uma caminhada pelo parque da cidade.
Estava na cidade há seis meses. Vim por causa de uma promoção profissional e iria gerenciar a agência da cidade. Perdi meus pais muito cedo e meus dois irmãos moravam bem longe. Era muito sozinha. Mas apesar de ser muito tímida eu sempre tive facilidade de me ambientar em qualquer lugar e já estava me sentindo em casa ali.
Morava sozinha e nunca tive problemas com isto.
Abri a janela para deixar o sol entrar. Para minha surpresa vi ali um linda rosa em tom lavanda. Estava ainda fresca. Com certeza tinha sido colocada ali há pouco tempo. Olhei em volta e não vi ninguém. Peguei a rosa, coloquei numa jarra e fui fazer minhas atividades.
Saí pra fazer minha caminhada. Tinha muita gente caminhando ou se divertindo no parque. Lembrei da rosa e fiquei pensando quem teria deixado aquela bela rosa na minha janela.
Eu nunca fui um exemplo de beleza, sempre fui muito mais admirada por minha inteligência, competência e determinação que por meus atributos físicos. Não que eu fosse feia, mas estava longe de ser uma bela mulher. Era um tipo comum. Sempre fui muito tímida e desajeitada, principalmente diante de um homem que viesse me paquerar.
Voltei pra casa, fiz meu almoço e como sempre passei o domingo sozinha. Volta e meia olhava aquela rosa que parecia sorrir pra mim.
No dia seguinte, fui trabalhar, segui minha rotina.
Dias depois, ao abrir a janela, encontrei ali um deslumbrante lírio branco. Como da outra vez não vi ninguém por perto. Peguei o lírio, sorri e pensei que tinha alguém querendo brincar comigo. A rosa já estava murcha. Troquei a rosa pelo lírio e a coloquei dentro de um livro.
Fui trabalhar e minha rotina nem me deixou pensar mais naquilo.
Mais uns dias e ao abrir a janela lá estava uma maravilhosa tulipa vermelha. Eu sorri. Estava começando a gostar daquela brincadeira. Mas um pouco preocupada. Não sabia quem estava colocando ali aquelas flores e podia ser uma pessoa mal intencionada. Fui pesquisar o significado das flores deixadas ali.
Uma rosa na cor lavanda significa encantamento e amor à primeira vista, um lírio branco significa a lealdade e o amor incondicional, uma tulipa vermelha significa amor verdadeiro e eterno.
Eu sorria sozinha. Seja quem for que esteja brincando comigo estava me deixando encantada.
Na época eu estava com trinta e quatro anos, nunca tive um namoro sério. Apenas alguns namorados de pouco tempo. Nunca fui de me arrumar muito. Minha irmã mais velha sempre me disse que se eu quisesse encontrar um namorado, um amor eu precisava melhorar meus modos, me arrumar e cuidar mais de minha aparência. Mas eu nunca dei importância pra isto. Pensava que se alguém me quisesse teria que ser como eu era. Eu me vestia com a elegância que meu cargo exigia, nada mais. Neste dia eu me esmerei na maquiagem, na roupa e no cabelo.
Quando cheguei para trabalhar um colega disse:
-Uau, hoje é alguma data especial?
-Por quê?
-Você está linda, deslumbrante.
-Deixa disso. Estou normal, como todos os dias. Você é que nunca reparou.
-Nada disso. Você hoje caprichou.
Eu fui pra minha mesa e o dia foi tenso e complicado.
Cheguei em casa e olhei para aquela tulipa. Pensei como eu faria pra desvendar aquele mistério. Até quando aquele jogo iria continuar? Mas por muitos dias a minha janela esteve vazia. E a cada dia minha expressão era de decepção. Será que a pessoa que estava fazendo esta brincadeira estava se divertindo com minha decepção?
Mas elas voltaram a aparecer. Um cravo branco que significa paixão. Uma margarida que significa amor leal, uma orquídea que significa amor, desejo, perfeição, luxúria. Uma rosa vermelha que significa paixão, amor intenso, desejo, admiração.
E o tempo foi passando e novas flores aparecendo sempre com significado de amor, paixão, desejo, afeto, carinho. E eu não conseguia saber quem estava colocando aquelas flores na minha janela. Eu já estava ficando ansiosa. Por que alguém faria isto comigo?
A cada dia eu me esmerava na minha aparência. Estava até me achando linda quando me olhava no espelho. Os colegas se admiravam quando me viam sempre elegante e bem arrumada.
Até que num dia estressante e com muitos problemas e aborrecimentos, já no fim do expediente notei um rapaz sentando, me esperando com um buquê de rosas vermelhas. Após despachar com a última pessoa do dia ele se aproximou e disse:
-A senhora é Cristina, não?
-Sim, sou eu.
-Estava esperando pra lhe entregar esta encomenda pessoalmente pois foi muito recomendado que só entregasse em suas mãos.
A agência já estava sem nenhum cliente e os colegas gritavam, assobiavam e batiam palmas. E meu rosto estava vermelho como as rosas.
O rapaz que veio entregar se foi.
Eu sentei e admirei aquele belíssimo buquê. Procurei pelo cartão. Ao abrir o cartão minhas mãos tremiam. Só algumas palavras: “Quero muito falar com você. Posso te ligar? Se quiser falar comigo deixe uma das rosas na sua janela.”
Eu cheguei em casa ainda emocionada. Não queria parecer ansiosa ou apressada, mas na verdade estava louca pra colocar a rosa na janela. Queria muito saber quem estava por trás de tudo isto.
Tentando me acalmar, tomei um banho bem devagar, preparei meu jantar e só depois de jantar abri a janela e coloquei lá a rosa.
Um tempo depois meu telefone tocou e eu estava trêmula. Atendi e conversamos por um longo tempo.
Ele me disse que era muito tímido, que tinha dificuldade de se aproximar. Quando ele se identificou eu soube quem era. Ele era um engenheiro e trabalhava numa grande empresa da cidade. Conhecia apenas por vê-lo.
Marcamos um jantar.
Eu cheguei ao restaurante nervosa, não sabia se estava fazendo o que era certo ou se iria gostar dele. Ele também não era um homem que se encaixava dentro dos padrões de beleza, não era muito alto, mas tinha uma aparência agradável. E era tão simpático, inteligente, educado. Conversamos por muito tempo e era um papo bom e inteligente. Era aquele tipo de homem romântico e gentil que puxa a cadeira para a mulher se sentar, que serve a mulher quando estão num restaurante e abre a porta do carro para ela. Estas coisas sempre me encantaram.
Quando saímos do restaurante ele me levou em casa. Estávamos atrapalhados na despedida. Mas acabou rolando um beijo e quando sua boca tocou meus lábios eu me derreti, acho que nós nos derretemos.
No dia seguinte quando abri a janela ali estava uma orquídea vermelha que significa uma intensa paixão e desejo.
Começamos a sair juntos. Acho que começamos a namorar desde o primeiro dia. Um dia estávamos em minha casa, num jantar romântico. O clima foi esquentando e acabamos nos entregando. E aquele tímido homem se mostrou uma amante fantástico e especial. Eu me entreguei de vez àquele amor.
Ele era romântico e sempre escrevia poesias pra mim. E eu me encantava e me derretia.
Não nos desgrudamos mais. Depois de um ano ou um pouco mais, nos casamos.
E as flores na janela? Nunca deixaram de chegar. Vez ou outra eu abria a janela e lá estava uma linda flor, sempre me dizendo alguma coisa.
Sempre nos cobrimos de mimos e vivemos felizes.
Quando vim trabalhar nesta cidade eu jamais poderia supor que aqui eu encontraria o amor da minha vida e muito menos que ele chegaria até mim através de lindas e delicadas flores na minha janela.