Sonho lúcido
Acordei com ele se movimentando pelo nosso quarto de dormir, apressadamente, colocando coisas na bolsa de viagem..
__ Vamos querida, levante-se, não temos tempo...
Eu ainda estava tonta de sono e com frio, estávamos em pleno inverno europeu. Me levantei confusa mas logo me dei conta do seu ânimo agitado e temeroso, finalmente ouço o barulho de disparos de arma de fogo. Paralisei por um momento, ele olhou meu rosto apavorado e confuso, apertou meus braços com carinho e disse para arrumar minhas coisas, só o necessário porque precisávamos sair dali, do nosso pequeno lar, onde moravamos há pouco tempo, tinhamos nos casado há 2 meses. Imediatamente, impulsionada pelo que li em seus olhos, começo a jogar roupas dentro da minha sacola de viagem, alguns objetos pessoais e o perfume que ele me deu de presente na nossa primeira noite juntos, eu não poderia deixar para trás, aquele cheiro ficaria marcado em minha memória para sempre.
___ Querida, precisamos sair, mas temos que tomar cuidado para não sermos alvejados.
O barulho de tiros ficava cada vez mais próximo e eu sentia o medo na voz dele. Ouvi uma bala recochetear numa parede próxima a nossa casa. Era um dia nublado, frio e úmido, ouvimos gritos de soldados das forças inimigas, eles estavam nos caçando. Meu marido pede para que eu coloque tecidos e alimentos por dentro da roupa e começa a fazer o mesmo, diz que é para nossa proteção.
Saimos porta fora lentamente, ele obseva tudo, nos esgueiramos pelas paredes das casas vizinhas, está tudo cinza e quieto agora, damos passos lentos, tentando fugir daquele lugar, não consigo ver ninguém, de repente a neblina baixou na cidade, impossível enxergar mais além e a mesma neblina que nos cobre e nos torna invisível também esconde nossos inimigos, estamos as cegas mas prosseguimos, não temos alternativa.
Atravessamos a praça da camélias, onde sentavamos no fim do dia para namorar, nos seus bancos de ferro com os postes e lampiões, belas peças produzidas para enfeitar e dar o toque romantico a praça, um lugar bonito mas agora pelo espaço aberto, nos tornava alvos fáceis para qualquer um. Apertamos o passo, mas ouvimos um tiro próximo, ele para de repente e acabo dando um encontrão nas suas costas e sinto ele me puxar lentamente pela mão, em direção ao chão, caio junto com ele e dou um grito surdo de desespero! Ele está ferido mas ainda vivo! Não consigo conter as lágrimas e seu olhar está petrificado de dor e desepero, sabe que estamos perdidos e sozinhos ali na praça... sinto uma pequena fisgada na tempora, uma dor de cabeça repentina , meu esposo me olha boquiaberto e apavorado, não consigo entender por que, meu corpo tomba em cima dele em câmera lenta e a dor agora é lancinante. Ouço um grito de desespero e tudo cessa ao meu redor