Meu Menino Bonito

Entrei no restaurante, estava bem cheio. O garçom, solícito, veio e me conduziu à única mesa que estava vazia. Bem perto da entrada. Eu fiz meu pedido e fiquei ali aguardando e me deliciando com um refrescante suco natural, bem ao meu gosto. Observava as pessoas e pensava na vida.

Pouco depois entrou um rapaz procurando uma mesa. Observei enquanto ele conversava com o garçom, ele olhou e percebeu que não tinha mesmo mesas, virou para sair. Eu o chamei.

-Moço, ei moço.

Ele virou.

-Eu?

-Sim. Eu estou sozinha, se quiser pode sentar aí e dividir a mesa, eu não me incomodo.

Ele olhou pra mim e eu fiquei quase arrependida. Podia parecer que eu estava querendo algo mais.

-Eu agradeço. Vou aceitar. Não tem mesmo nenhuma mesa.

Ele chamou o garçom e fez seu pedido.

Eu fiquei na minha, agi como se estivesse sozinha.

Ele olhava para mim às vezes mas também ficou calado a principio.

Pouco depois ele puxou conversa.

-Você está sozinha aqui?

Eu estava com o pensamento distante

-Como?

-Perguntei se você está sozinha aqui.

-Sim, estou.

-Está em um hotel aqui perto?

-Sim.

-Está gostando do pesseio?

-Sim, estou. Olha, eu só disse que você podia dividir a mesa comigo porque não havia outras disponíveis. Você não precisa ficar me dando atenção.

-Desculpe, eu não queria incomodar.

-Não incomodou. Só não quero que pense que lhe chamei com segundas intenções.

-Eu não estou pensando nada.

Eu me calei e ele também não disse mais nada.

Meu jantar chegou. Eu já estava jantando quando o prato dele chegou. Eu terminei meu jantar, pedi minha conta. Ele já estava terminando também. Eu paguei a conta e disse:

-Eu já vou embora. Foi um prazer conhecer você. Tchau.

-Ei, espera. Já estou pagando minha conta e já vou.

-É melhor eu ir sozinha.

Ele pagou a conta e saiu atrás de mim. Fomos caminhando pelo calçadão e conversando

Ele era um homem lindo, simpático, agradável, divertido. E estava ali, sutilmente, tentando me cantar.

Chegando ao hotel eu me despedi e entrei.

Já no quarto eu me olhei no espelho. Eu estava com sessenta e um anos. Mas tinha aparência de bem menos. Quando estava com minhas filhas ou meus filhos, quem não nos conhecia pensava que éramos irmãos ou até namorada de meus filhos. Sempre fui muito vaidosa e me cuidava em todos os aspectos.

Tive seis filhos em dois casamentos, inclusive tive gêmeos, mas vendo meu corpo ninguém dizia que passei por cinco gestações.

Casei com quinze anos com um rapaz de dezoito. Eu estava grávida. Passamos por muitas dificuldades no início do nosso casamento até conseguirmos a estabilidade financeira, mas o nosso amor resistiu a tudo e ficamos casados por dezoito anos quando então um acidente de trânsito ceifou sua vida. A morte dele foi um duro golpe pra mim. Mas eu superei e segui minha vida.

Dois anos depois eu me casei com um homem quinze anos mais velho que eu. Pela segunda vez eu amava intensamente um homem. Tivemos uma filha e ficamos casados até a sua morte. Estava viuva há um ano. Mais uma vez eu passava por um luto muito triste. Estava sozinha. Meus filhos, todos casados, seguiam suas vidas.

Eu continuava cheia de vida e sensualidade. E aquele menino lindo se insinuando pra mim. Difícil resistir. Mas ele se foi.

Já na cama, meu corpo ardia e eu rolava de um lado para o outro. Fechava os olhos e via aquele lindo sorriso. Mas ele se foi…

No dia seguinte quando eu saí do hotel pra pegar um sol na praia, quem eu vejo? O garotão do dia anterior esbanjando charme e com aquele sorriso nos lábios. E eu pensei que não merecia ter que resistir àquilo tudo mais uma vez.

-Você por aqui?

-Sim. Vim lhe fazer um convite. Estou indo conhecer algumas praias mais distantes. Disseram que são lindas.Vamos comigo?

-Não, eu não vou. Agradeço, mas vou ficar por aqui. É melhor você ir sozinho, pode se divertir mais e quem sabe conhecer pessoas especiais.

-Vamos comigo.

Ele me olhou com aquele olhar de menino carente e sorriu aquele sorriso que me derreteu. Eu sorri e como uma mulher que já não queria se poupar de nada eu disse:

-A esta altura de minha vida eu não tenho mais nada a perder. Eu já vivi muito pra me privar do que quer que seja. Vamos lá e seja o que Deus quiser.

Nós saímos e fomos a uma praia maravilhosa e sossegada. A gente se divertiu, caminhamos, rimos e conversamos muito.

De repente ele me puxou e me beijou com aquela boca encantadora. A minha vontade foi de me entregar. Mas com o resto de juízo e bom senso que ainda me restava eu disse:

-O que é isto, Giovani, eu não lhe dei esta liberdade. Olha o respeito.

-Tudo isto por causa de um beijo?

-Você é um garoto. Eu sou uma senhora

-O que é isso, Ariane? Eu sou um homem e você uma mulher.

-Você é um homem jovem e eu uma mulher muito mais velha que você.

-Não é tanto assim. E isto não tem a mínima importância. Você é casada?

-Não. Sou viuva.

-E eu solteiro. Somos livres pra viver.

Vamos lá curtir nosso dia.

No fim da tarde ele me deixou no hotel. Eu dei um beijo no rosto dele, ele me puxou e mais uma vez me beijou. Eu saí do carro sem dizer nada. Entrei no hotel.

Debaixo do chuveiro meu corpo ardia de vontade. Aquele jovem homem estava mexendo comigo…

Na manhã do outro dia lá estava ele me esperando, me provocando e mexendo com todos os meus sentidos. Mas ainda tive forças pra dizer:

-O que você está fazendo aí?

-Vim lhe buscar pra gente passar o dia juntos.

-Será que você não entendeu que eu não quero ficar com você?

-Eu não lhe agrado nem um pouco?

-Agrada, mas se eu ficar com você vou ter a sensação de estar cometendo um incesto.

-Eu até poderia ser, mas não sou seu filho. Eu sou um homem e você uma mulher.

-Não me provoque, Giovani. O que você pretende?

-Ficar com você.

Eu ri e perdi um pouco mais do meu juízo. Saí com ele e tivemos um incrível dia.

À noite saímos pra jantar e dançar. E ele me beijava e me provocava e ele sussurrou no meu ouvido:

-Vamos pra um lugar mais reservado.

Neste momento eu perdi o resto do meu juízo:

-Leve-me pra onde você quiser.

No quarto ele me beijava e me despia com delicadeza e carinho.

-Você é muito linda. Eu quero tanto você.

Caímos na cama e nos entregamos. E perdemos todos os sentidos. Só o prazer restou ali e estrelas caindo sobre nós.

Passamos ali dias de puro êxtase e eu esqueci que tinha uma vida fora daquele lugar.

Quando terminou nossas férias eu me despedi dele. Disse que aquele caso terminava ali, que eu estava voltando para o meu mundo, para a minha família e que não tinha lugar pra ele na minha vida.

Ele insistia que o nosso caso devia durar enquanto rolasse. Passou o seu número de telefone e pediu o meu. Eu me recusei informar. E fui embora…

Eu estava sentindo uma grande saudade daquele menino. A minha vontade era de voltar correndo pros braços dele. Olhava o cartão que ele deixou comigo e me sentia tentada a ligar. E eu resistia, Mas eu tinha falado demais, forneci muitos dados que fez com ele me encontrasse. A campainha de minha casa tocou e quando abri eu não acreditei. Ele estava ali e trazia seu charme e seu sorriso pra mim.

-Giovani, o que você está fazendo aqui?

-Vim pra te ver.

-Você é louco? O que você está pretendendo? Não vai largar do meu pé? Vê se entende, eu não quero nada com você. Você vai me prejudicar. Agora veja só, aparecer por aqui.

-Eu estava louco de saudade.

-E o que eu tenho com isso?

-Você não estava com saudade?

-Eu vou lhe explicar mais uma vez, não pode haver nada entre nós. Você não percebe que tem vinte e sete anos nos separando? Não percebe que eu tenho minha família, minha vida e nela não tem lugar pra você?

-Não, eu só percebo que eu quero ficar com você e não importa mais nada. Não importa as outras pessoas, nem os vinte sete anos, nem preconceitos.

-Não faz isso comigo. Eu não posso. E você sabe que a minha vontade é cair em seus braços.

Ele me abraçou e me beijou. E eu me entreguei ao louco desejo que nos une.

Nos despedimos e mais uma vez e pedi que ele não me procurasse mais. A minha vontade era jogar tudo pro alto e ficar com ele. Mas eu sempre resisti e fui levando minha vida.

O tempo foi passando. Ele nunca se casou. Eu tampouco me envolvi com ninguém. E pela vida afora muitas vezes acontecem incríveis, deliciosas e lindas recaídas. E nos braços um do outro a gente encontra carinho, paixão, amor, prazer, vida plena…

Nádia Gonçalves
Enviado por Nádia Gonçalves em 05/02/2022
Reeditado em 07/02/2022
Código do texto: T7445614
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