Noves fora? — ARI TEM MÉTRICA
(Autor: T<-X_ROCK<-¨i¨.4NN)
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O professor Ari, formado em “mãos que cavaram com enxada” e cuja escolaridade foi a “de acordar cedo toda a vida para trabalhar”, dá entrevista ao Jornal da Lógica acompanhado de sua mulher costureira nas horas vagas e apoiadora dele na plantação. Ambos já passaram dos 70 e aparentam mais vigor do que alguns netos deles que são nascidos na cidade grande, conforme uns vídeos que foram mostrados ao repórter.
— Seu Ari, vou começar com a seguinte pergunta: “trabalhar é um prazer ou uma obrigação”?
¬¬ Filho — posso lhe chamar assim? —, é um prazer. O melhor de tudo é não precisar de esmola. Mas eu ouvi dizer que estão querendo levar o povo a ficar sem trabalho. E isso é triste porque vai ter alguém por trás disso querendo colocar homens e mulheres de joelhos para serem dominados.
— O senhor sempre foi uma pessoa saudável, ao que parece... e também isso é o que dizem do senhor. A saúde é a maior riqueza?
¬¬ Sim, é a maior riqueza. Eu sei de gente que deixou-se perder um dedo da mão, numa indústria, apenas para pegar aposentadoria por invalidez no tempo em que a Previdência era um balcão de negócios. Mais adiante, essa pessoa entrou para a política e até já governou o país.
— Qual o nome que o senhor dá a uma atitude como essa?
¬¬ Parasitismo, igual às pragas que eu já enfrentei aqui na lavoura. E olhe que eu reconheço um parasita à distância...!
— Seu Ari, o que senhor acha de ser rico? Nunca pensou nisso?
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Seu Ari trocou olhares com a esposa, respirou fundo com um ar de satisfação, respondendo depois de alguns longos segundos:
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¬¬ Eu só sei que essa que está aqui do meu lado me olha como quem sente orgulho de mim. Se eu tivesse ficado rico quando jovem, talvez ela nunca tivesse aceitado minhas juras de amor. Essa grande mulher aqui, bem do meu lado, na juventude recebeu propostas de casamento partindo de fazendeiros e até de filhos de políticos poderosos. E isso sendo ela uma simples costureira, só que parecendo uma modelo de passarela. Até galãs famosos fizeram propostas para ela, porque alguns deles possuem investimentos no setor de rebanhos. Se eu sou bonito, não sei dizer. Mas aqui está ela, a quem o senhor pode perguntar a razão de ela ter recusado a oportunidade de largar a fita métrica — preferindo ficar comigo na lavoura e passando a arte dela para uma filha nossa que tem hoje uma tecelagem e muitos funcionários na cidade grande.
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O repórter olhou para a esposa de Seu Ari (esse simples entrevistado “professor de roça” e perito na criação de aves de grande porte).
Nem mesmo uma pergunta o repórter conseguiu esboçar. Ele próprio havia presenciado quando chegou à propriedade rural. Aquela mulher ali presente era a alma daquele lugar. Ela tinha sido a única voz que se fazia ouvir antes do início do encontro que levaria à entrevista. Ela dava ordens aos poucos empregados que ali trabalhavam, com uma voz generosa, porém firme. Tinha dado para perceber que ela estava ali silenciosa daquele jeito, mas era apenas porque a modéstia era uma virtude que lhe transparecia. E o marido, que poucos minutos antes havia sido por ela orientado nos preparativos para a entrevista, teve seus cinco minutos de fama naquele momento. E ela, apesar de nunca haver se importado com a fama, confiava que ele não iria se prevalecer com glórias passageiras.
Sim, porque se ele queria alguma glória... essa... era ela mesma — que se chamava: Maria da Glória.
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O repórter continuou a entrevista por mais meia hora, falando sobre questões laborais normais daquele grande sítio rural, saindo dali depois emocionado com aquilo que viu.
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Da série: “A melhor medida é a da métrica da pessoa amada.”