Um conto inacabado

Eu tentei tornar esse dia um conto.

Na verdade, ainda estou tentando.

Nos contos eu facilmente coloco meus sentimentos e vivencias em uma garota de sorriso largo que se vê capaz de conquistar o mundo, mas hoje a tentativa de conto é sobre a garota que não conseguiu atravessar uma porta.

Portas, portões, portais. Seja qual nome você atribui, é o significado de uma abertura que te permite acesso para outro lugar, outra vibração, outro momento, outra luz, outra dor. Seja porta ou portal, essa tentativa de conto é sobre uma garota que não conseguiu atravessar uma porta.

Antes de chegar nessa porta ela precisou dar muitos passos, mas.... o que é afinal de contas um passo? Diria que é o ato de colocar um pé a frente do outro, mantendo um equilíbrio aparente e se movimentando. Mas o passo tem o poder de tirar você de uma suposta parada e te levar adiante? Não... ele pode te deixar no mesmo lugar.

Começo a pensar que a menina não atravessou a porta por não ter dado um passo, ainda que ela tenha caminhado. Conversou com as pessoas que deveria, foi gentil da forma que pode, respeitou limites que sua mente impôs, mas não foi suficiente (anotações importantes) - A porta permaneceu fechada.

Ela caminhou sem de fato caminhar, pisando com cuidado em terra desconhecida e olhando para os próprios pés temendo o que teria adiante. Eu poderia dizer que essa menina é capaz de superar tudo? ( bom questionamento – dissertar mais sobre isso).

O que fez ela chegar até essa porta seria relevante para o conto. Talvez quem até aqui leu, já se viu no lugar dessa menina, ou pense que a porta não é material, se pensou isso, talvez você esteja certo.

Continuando...

Serenamente ela caminhou por terras desconhecidas atrás de um pedaço seu, tão profundamente seu que a ausência é como uma ferida que não cicatriza. Eu poderia dizer que a dor impediria ela de caminhar ou forçar essa porta, mas não se trata disso.

Um tanto perdida ela se viu chegando em um lugar onde os ecos não eram seus. Onde a vida que alguém viveu não era a dela, mas onde sua parte esteve, pois ela sentiu o que ninguém mais sentiu, viu o que ninguém mais viu e sabia o que tinha além da porta. Como expressar tamanha grandeza em uma tentativa de conto? ( acrescentar mais sobre o amor).

Se a descrição para um escrito como esse é algo que cativa, ao leitor diria: que os obstáculos ao chão não eram nada comparados ao que ela via no fim do caminho. Que a casa, de portas e janelas fechadas era apenas um ponto em meio ao retrato que a garota fez em sua mente, que as árvores ao fundo onde pássaros cismavam em cantar eram como uma moldura e que a mesa, de madeira exposta com pequenas lascas do que foi uma obra de arte eram seu foco. Se os lugares tivessem o poder de dizer, certamente ele diria: por muitas vezes aqui ele sentiu sua falta, enquanto esculpia algo a sua imagem. Ela sentiu, ainda que não tenha visto, e intimamente sabia que o simples toque de seus dedos sobre a madeira a preencheria com mais saudade que seu peito suportaria.

Mesmo que eu esteja ainda tentando escrever um conto, um conto sobre uma garota que não conseguiu atravessar a porta, você com certeza sabe o que tinha além dela. Mas dizia o ditado que quando se fecha uma porta, abre uma janela, e mesmo que as janelas da casa estivessem fisicamente fechadas, ela conseguiu encontrar o que precisava ali mesmo.

Se de fato eu conseguisse concluir esse conto, não saberia expressar o quanto esse dia foi decisivo para ela, o quanto sua coragem se mostrou maior que o medo. E que talvez, só talvez, essa porta estivesse aberta desde o início e ela não tenha visto ( easter egg) talvez amanhã eu consiga concluir esse conto...

Não esquecer de incluir:

Intimamente ela esperava vê-lo, focado em alguma atividade e o surpreendê-lo com alguma frase tipicamente clichê sobre sua chegada repentina, ela esperava que uma porta física se abrisse e que aqueles olhos castanhos a fitassem com algum brilho de esperança e sim, por vezes ela voltou a olhar para trás em sua partida, repleta de esperança de que ele pudesse estar ali.

Não esquecer de incluir o quanto essa jornada significou a ela e o que sentiu ao estar lá. Falar sobre as flores plantadas e a forma desajeitada que algumas ferramentas ficaram à vista, falar que talvez a mesa tenha ficado molhada e torcer para que as paredes contem a ele tudo o que foi dito para elas.

É, acredito que os rascunhos serão suficientes...

Continue,

Córdia
Enviado por Córdia em 01/02/2022
Código do texto: T7442807
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