ESTAÇÃO SANTA MARIA
Há tempos atrás, mais precisamente na década de trinta, na estação de Santa Maria, no Sul de Minas, Julinho, como era conhecido em todo povoado dos Simplícios, partiu no primeiro trem em direção à São Paulo em busca de uma vida melhor.
Júlio Luiz Montanaro, moço espigado, alto, de nariz grande, rosto avermelhado, cabelos meio loiros, bastante tímido, de fala arrastada, educado na família Montanaro, italianos migrantes da região do Lascio, lá na saudosa Itália.
Julinho sabia ler e escrever e falava o italiano no dialeto lasciano, que aprendeu em casa com seus pais e avós. Família produtora de café no Sul das Gerais.
O moço portuliano, um dia conheceu Rosinha, uma italianinha da família dos Pitarelli e que morava no mesmo povoado . Rosa Maria Pitarelli, também sabia ler e escrever e falava o italiano do jeito familiar. Rosinha era uma menina moça faceira, intrigante, cabelos loiros e compridos, bastante tímida, sempre com um vestido de chita estampado com flores do campo e chinelinhos nos pés. Cabelos arrumados com prendedores ou com lenços de panos bem bordados e biquinhos de crochê. Ela era a namorada apaixonada pelo encantado italiano que também a amava sem medida.
Numa manhã fria de maio, Julinho, com uma mala pequena e poucas mudas de roupas, caminhou a passos largos em direção à estação Santa Maria, que ficava menos de meia légua de sua residência, para embarcar no trem da mojiana em direção à capital paulista.
Quando chegou à estação, antes de ir ao guichê para adquirir o bilhete da passagem, Julinho avistou Rosinha que estava esperando para a despedida e para desejar que tudo desse certo na nova vida na capital.
Rosinha estava com uma blusa de lã vermelha, confeccionada por ela mesma, encostada à soleira da gigante janela da estação. Julinho chegou até à sua amada, olhou para todos os lados e deu lhe um rápido beijo do lado direito do rosto rosado de Rosinha.
Depois de comprar o bilhete da passagem, Julinho e Rosinha trocaram algumas idéias e quem sabe juras de amor até que o trem apontasse na curva do morro dos Machados e chegasse até à estação.
Ao ouvir o apito da locomotiva, as lágrimas começaram a rolar dos rostos de ambos os pombinhos e ao entrar na embarcação, Julinho pela janela ficou olhando cada vez mais distante, Rosinha na estação, enquanto eram trocados os acenos de até logo.
Rosinha e Julinho, mais tarde, constituíram família em São Paulo.
A estação somente sinais no chão das ruínas que restaram em meio às pastagens.
Por onde ficavam os trilhos da ferrovia, apenas uma estrada de terra batida ainda resta.
É isso aí!
Acácio Nunes