Jogo de Sedução

Minha vida foi sempre agitada. Estudei, trabalhei, me casei, tive filhos, me divorciei e por fim me aposentei.

Estive envolvido em muitas lutas sociais e disputas políticas ao longo da vida.

Sempre tive presente em mim um aguçado senso de justiça. Onde havia uma injustiça ali estava eu lutando ao lado do injustiçado. Por causa disto fui injustiçado várias vezes. Mas nem pensei em desistir de ser o que sou.

Em meu trabalho no serviço público, por várias vezes sofri assédio moral e vi muitos colegas também sofrendo este mesmo assédio. Nunca me detive diante destes atos imorais. Sempre fui lá e denunciei.

Mas chegou um tempo em que eu andava tão cansado. Desiludido com tantas pessoas fúteis, ingratas e que nem sabem lutar pelo que querem. Muitas lutas foram vãs.

Um belo dia resolvi que ia botar o pé na estrada. Sou sozinho. Meus filhos estão criados e cada um tomou seu caminho.

Saí sem rumo. O mar é sempre um bom refúgio para quando estamos insatisfeitos, amargurados, descrentes da vida. Quanto menor e mais tranquilo o lugar, melhor.

Como amo o mar, fui pulando de praia em praia, conhecendo cada local do nosso litoral. Conheci tantas pessoas, fiz muitos amigos. Quando me cansava de um local, botava novamente o pé na estrada.

Cheguei em uma praia com uma vila de gente simples e feliz. Não tinha muita estrutura e acabei me hospedando na casa de uma senhora que alugava quartos para os poucos turistas que apareciam por lá.

Gostei do lugar e de sua gente. Todos os dias eu fazia longas caminhadas pela praia, tomava um banho de mar e passava um tempo sentando na areia relaxando, meditando e totalmente descontraído. Estava começando a gostar daquela vida de nômade.

Um dia eu estava sentado na praia disperso, olhando pro nada. Quando olhei, um rosto lindo me olhava por trás de uma cabana. Quando viu que eu estava olhando se escondeu. Eu fiquei curioso. Ela ficou brincando de esconde esconde comigo. Por fim eu me cansei daquela brincadeira infantil e fui embora.

Nos próximos dias aquela garota continuou com seu jogo de esconde esconde e sedução. Eu já imaginava aquela mulher em meus braços e me sentia cheio de vontade. Há muito tempo eu não me sentia assim. Na verdade nem sabia mais como se fazia este jogo de sedução e paquera.

Um dia eu estava nadando num dos cantos da praia e de repente ela me aparece caminhando, quase desfilando pela praia, num gingado pra lá de sensual.

Eu saí da água e ela acelerou o passo e se foi sem que eu conseguisse falar com ela. Esta história estava me deixando alucinado a ponto de me tirar o sono e quando conseguia dormir, sonhava com aquela diabinha sedutora.

Muitos dias se passaram e eu ali naquela vila, sem querer ir embora. Aquela mulher estava me devolvendo a alegria do jogo de sedução e eu cada vez mais seduzido por ela.

Um dia ela estava naquele joguinho de esconde esconde comigo e eu a surpreendi.

-O que você pretende? Por que está fazendo isto comigo?

Ela cheia de dengo disse que não sabia do que eu estava falando.

-Você me persegue pela praia e sempre foge quando eu tento me aproximar. Quem é você?

-O que importa quem sou eu?

-O que quer comigo?

-Não quero nada com você. Só acho você bonito.

-Ah! É? Eu também acho você muito bonita. Você é aqui da vila?

-Sou.

-Quem são seus pais?

-Não tenho pais. Sou sozinha.

-Sozinha? Como assim? Mora sozinha?

-Moro com minha avó, mas ela já está muito velhinha e nem se importa comigo.

De repente ela escapou de mim e correu pela praia. Eu corri atrás dela a alcancei e nós caímos na areia. E eu a beijei com toda a vontade que contive por dias.

Muito ladina ela escapou e se foi.

Por muitos dias eu esperei uma oportunidade de estar com ela.

Até que um dia já à tardinha, o sol quase se pondo, eu estava sentado em uma pedra num dos extremos da praia. Ela chegou, tirou toda a roupa e entrou no mar. Eu estava bem próximo e ela me tentando, me seduzindo e eu ficando fora de mim. Até que entrei na água e a abracei.

Naquela praia de águas mornas e calmas, tocando aquele corpo macio e cheio de curvas perfeitas, beijando aquela boca quente e envolvente, eu enlouqueci, perdi o juízo. Ali mesmo nos entregamos àquele imenso desejo que nos consumia. Não sei por quanto tempo ficamos presos, colados um no outro, sentindo as ondas suaves nos embalando. Não havia tempo nem espaço. Só nós dois envolvidos e entregues à magia da paixão.

Mais tarde em minha cama eu tive a sensação de leveza, de bem estar e de uma paixão ardente que me queimava por dentro. Mesmo sendo um homem de cinquenta e poucos anos e experiente na arte da sedução, eu nunca havia experimentado a sensação de prazer que experimentei hoje. Foi como se aquela mulher tivesse me libertado de todas as minhas amarras e me prendido em sua rede de volúpia.

Dormi feito um anjo.

Nos próximos dias eu não a vi. Não fazia idéia de onde ela morava. Todos os dias esperava por ela ali naquele lugar. Mas ela continuava no seu jogo de esconde esconde comigo. E eu ardendo de tesão. Consumido de desejo.

Até que vários dias depois, feito uma sereia, ela me aparece nua na água. E eu, feito um cachorrinho, corri pros braços dela. E num verdadeiro encontro de prazer e luxúria nós ficamos ali nos entregando um ao outro.

Nos próximos dias a gente se encontrou. Entre o prazer da carne e muitos carinhos, conversamos muito. Eu estava completamente apaixonado e disposto a encerrar minha vida de nômade e me fixar ali naquela vila ao lado de minha deusa encantada.

Ao lado dessa mulher eu me libertei de minhas tristezas, de minhas decepções, de minha solidão, do meu passado. Como se minha vida estivesse recomeçando e eu amando pela primeira vez.

Ao lado dela eu vivo um dia de cada vez, encantado com sua sabedoria simples. Ela me ensinou a ser feliz. Ela me ensinou o que é um amor puro e verdadeiro. Ela me ensinou que da vida só interessa os momentos bem vividos.

Meu corpo foi feito pra ficar colado no dela, meu coração se encaixa perfeitamente no dela, minha vida foi feita pra ser vivida ao lado dela.

O resto não tem a mínima importância.

Nádia Gonçalves
Enviado por Nádia Gonçalves em 11/01/2022
Reeditado em 11/01/2022
Código do texto: T7427091
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