ISA, A MOCHILEIRA

Isabel, mais conhecida como Isa, era uma menina inteligente. Também tinha outro adjetivo: era triste. Sentia um vazio, um medo de tudo, ela vivia com a alma no fundo do poço. Era uma jovem que não tinha amizades, cresceu vendo os pais brigarem. Não queria ter ninguém, justamente por conta disso. Não sabia o que era amor na prática. Um resumo de acontecimentos em sua vida: viu os pais se separarem e se reconciliarem inúmeras vezes ( relacionamento io-iô ). Quando ficou mocinha sofreu abuso sexual, o causador foi um amigo da família que era professor de inglês. Ele transformou a vida de Isa numa bagunça só, tipo Torre de Babel. A alma de Isa estava descontruída, o sorriso apagado, os sonhos esquecidos, o passado se fazendo presente. As lágrimas, a chuva, o quarto escuro, a janela fechada. As vitrines das lojas de roupa feminina não chamavam a sua atenção, não queria saber de se arrumar. Se arrumar pra quê?!

No dia 06 de Janeiro de 1980 Isa completou 18 anos.

Já maior de idade transformou-se numa mochileira.

Andava por esse mundão. Tinha medo, mas o desafiava.

Nessas andanças acabou conhecendo uma senhorinha de noventa anos que morava sozinha num sítio com muitas flores, linda paisagem. Ela era viúva. Isa chegou bem cansada e com diarréia causada por levar sol forte e também por causa dos lanches de preparo " duvidoso" que comeu nas estradas.

Dona Verônica ( a viúva simpática) fez um chá de boldo para a jovem mochileira.

Foi tiro e queda! A menina ficou boa.

De tão cansada, a aventureira foi dormir. Apagou e só acordou noutro dia com o canto dos bem-te-vis e canários.

Isa estranhou o fato da sitiante a ter deixado pernoitar em sua casa.

A dona Verônica sorriu, e disse que é acostumada a receber viajantes em seu sítio.

A velhinha gostava de conhecer gente, ouvir histórias, dividir experiências de vida.

Isabel então se sentiu com o coração aberto para contar para aquela velhinha sobre sua triste vida. Dona Verônica ouviu atentamente. A menina falou sobre as aflições, a solidão, os traumas. Dona Verônica disse à menina que a entendia, pois também sofreu muito na vida.

" Minha querida jovem Isa, o sofrimento faz parte do processo. Pois é passando pela dor que realmente nós damos valor. E o caminho do aprendizado tem momentos dolorosos. Ninguém quer sofrer, geralmente queremos fugir dos problemas. Mas não adianta simplesmente fugir porque os problemas nos acompanham. Sabe por que? Porque o problema não é uma pessoa, não é um lugar... O problema é o vazio dentro de nós.

O problema é a ausência de luz, e na escuridão caminhamos sem direção. Somos viajantes nesse mundo, estamos de passagem.

Nós temos que olhar e focar no que é eterno, os problemas não são eternos. Somos nós que devemos escolher. Eu entreguei minha vida a Deus, o problema em minha vida não deixou de existir. Mas ele não me acompanha mais.

Eu não fico contemplando a dor, eu louvo o meu Senhor.

Ontem passou, e hoje estou mais perto da Salvação. A solução é entregar a vida a Deus. Deus é o Autor da vida. Deus é a resposta.

Deus é o nosso melhor Amigo, nosso Pai Amado."

Isa ficou maravilhada com as sábias palavras da senhorinha!

As duas iniciaram uma linda amizade, tipo avó e neta.

No outro dia, um domingo abençoado, sol lindo de Verão, manhã tranquila... Dona Verônica leva Isa para a igreja onde congrega. Dia 09 de Janeiro de 1980, Isa passa a viver em novidade de vida.

Aceita Jesus, o Bom Pastor! Ela decidiu não ficar no meio do caminho, Isa decidiu trilhar o caminho com Jesus.

Voltou pra casa, fez as pazes com a família. Não permitiu mais que o passado a atormentasse.

Mas as mudanças não foram como um passe de mágica, tudo foi paulatinamente.

Assim como Isa, todos nós somos viajantes e trazemos bagagens, fardos pesados. Devemos procurar abrigo na Casa do Senhor, e lá nos desfazermos de nossas bagagens.

E assim termos nossas vidas restauradas para o nosso caminho com a leveza do Céu dentro de nós.

( Autor: Poeta Alexsandre Soares de Lima )

Poeta Alexsandre Soares
Enviado por Poeta Alexsandre Soares em 08/01/2022
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