O amor é como uma lembrança de um familiar falecido

Quando eu já não tinha ânimo para assistir clichês românticos, para ver stories com fotos de casais, sabia que aquilo era amor, amor não correspondido. Aquilo era assustador, ao menos pra mim.

Todas as vezes que me pegava sonhando acordado era com ela, nunca tinha conhecido ninguém igual, ela gostava das mesmas coisas que eu, adora assistir “Interestelar”, “500 dias com ela”, adorava “The Smiths”, livros de “Bukowski”. Lembro que quando falei sobre a gente se encontrar depois da faculdade ela hesitou, afinal era comum ter certo medo, não nos conhecíamos além das redes sociais. Mal lembro como achei ela no Instagram, eu seguia qualquer um que curtisse as mesmas páginas que eu.

Desde minha infância fui afortunado, tinha poucos amigos, poucos amores, talvez por isso desenvolvi essa personalidade estranha, tinha gostos peculiares e sempre fui tímido.

No meu primeiro dia de aula no ensino fundamental uma garota passou por mim e meteu a mão em minha bunda, fiquei apavorado, a sala toda gritou, nunca cheguei nela pra saber o que fora aquilo, se ela gostava de mim, uma entre várias garotas que deixei passar, apenas por medo.

Lembro que meus amigos sempre falavam, — chega e fala, ou dá um tchau de longe e se ela acenar chega beijando. — Coisa de adolescente, sempre com seus macetes pra chegar no sexo oposto.

— Por que gosta tanto de Bukowski? — Perguntei na primeira mensagem que mandei pra ela.

— O amor é uma ilusão, as pessoas passam um tempo juntas, trocam carinhos, depois tudo acaba, agem como estranhos e nós ficamos marcados por isso. — Foi o que ela disse. Na hora percebi que não era uma garota qualquer.

Passávamos horas conversando, madrugada adentro e no final, nossas conversas sempre paravam no mesmo assunto, amor. Aquilo me consumia pois eu tentava mostrar a ela uma visão otimista, escolher as pessoas certas, dar um passo de cada vez.

Quando beijei uma garota pela primeira vez, senti como se meu corpo fosse entrar em erupção, como um vulcão, podia sentir o sangue correndo no meu rosto completamente ruborizado, aquilo foi horrível. Nunca encontrei alguém de quem gostei de verdade, sempre fui muito analítico, gosto de conhecer as pessoas em sua essência.

Certo dia combinei com ela de nos encontrarmos, em algum barzinho ou uma lanchonete, ela ficou em dúvida. Eu, na tentativa de tranquilizá-la, disse que seria um cara legal, não forçaria nada, e que mostraria pra ela que estava errada sobre o amor, sobre as pessoas.

— Você não vai me mostrar. — Falou ela num tom de sarcasmo que foi possível sentir ao ler aquela mensagem.

— Posso saber o porque de falar com tanta certeza? — perguntei ansioso por uma resposta positiva sobre nosso encontro, e a resposta foi nua e crua:

— Porque não gosto de você, não consigo sentir interesse, o seu cupido não se saiu bem.

Aquilo matou o resto de mim que restava. Não consegui digitar mais nenhuma palavra. Naquele dia perdi todas as minhas esperanças, me tornei uma pessoa fria e realista ainda mais do que antes.

O amor é como uma lembrança de um familiar falecido, que com o tempo vai se apagando. Viver sem amor é como fazer uma dieta, no começo pode ser difícil, mas, depois percebemos que pode ter sido melhor renunciar àquela comida, que por vezes causa tantas doenças, aquela coisa que nos machucaria e causaria cicatrizes irreparáveis.