A ROSA ROUBADA
Nascido lá nos confins do Pernambuco, seu nome era José Lourenço de Melo, filho de Maria e João Lourenço, que mais outros quatros filhos tiveram. Naquela vida penosa e dura que naquele tempo existia, quando tudo era difícil, algo sempre se aprendia. No tempo do Conto de Réis, quando uma palavra dada ou o fio de um bigode era o contrato firmado, quando o dono da venda anotava em sua caderneta os clientes do famoso fiado. Quando supermercado não existia, quando o mundo ainda não era empacotado, e se comprava tudo a granel, de um quilo bem pesado. Jovem e bem-disposto como contam as histórias, adorava uma branquinha e também uma esbórnia, andava só pela madrugada com sua lampiana na mão, e exibia-se a si mesmo riscando-a no chão, fazendo sair faíscas e chamando assombração. Tinha um cavalo por nome, Espoleta e um cachorro chamado Tubarão, fiéis companheiros de jornada que nunca o deixara na mão. Quando a coisa apertava, Tubarão tomava a frente, e Espoleta, sempre atento, cortava o vento com seu dono no lombo a galope, até estarem seguros e livres de qualquer tipo de má sorte. Mas o tempo haverá passado e o jovem se tornado homem, que precisava buscar seu destino onde quer que ele estivesse. Jogou então a matula nas costas e para o Paraná rumou sem medo. Chegando lá e estabelecido, começou a explorar o território, fez logo vários amigos, pois de simpatia seu semblante era perfeito, e também pela educação que tivera de seus pais que diziam que todos mereciam respeito. Em um dia de vários tragos na venda de Cícero Manuel, conheceu Francisco da Cruz, um homem temido por sua arrogância e temperamento forte, que se dizia bom de faca e sem igual na manobra do chicote. Francisco chamou-o então para um jogo de truco, que seria de mano a mano. José não recusava desafio e logo foi aceitando. Depois de várias partidas, tudo estava empatado, e para ver quem era o melhor em uma última mão, todo o valor da aposta fora dobrado. Cícero foi o responsável por dar as cartas para que não houvesse desentendimento. A grande final começara e todos em volta da mesa espichavam-se para ver o resultado. José jogou uma dama, morta por um três violento e de retorno recebeu um sete ouro. O silencio prevalecia no ar com os adversários se olhando. Nesse momento José matou o sete ouro com um espadia, e foi tornando um zape para sua felicidade e alegria. Era inevitável, Francisco perdera a aposta. Morreu com um sete copas nas mãos, gritando bosta! Naquele instante, José era visto como um herói, pois enfrentara e derrotara a besta-fera. Famoso José ficou na cidade. Todos queriam conhecê-lo e com ele estabelecer amizade. Então um dia fora convidado para uma festa na fazenda do sr. Eleoterio Miranda, um dos homens mais ricos e renomados que existiam por aquelas bandas. Ele meio acanhando por estar entre figurões, caminhava de lá para cá, de cá para lá, até que, sem querer, de frente com um a jovem deu, linda menina de cabelos enrolados, um tanto quanto envergonhada, e naquilo seus olhos se acenderam. Passou-se um mês e José agora era noivo de Rita Miranda, filha do fazendeiro. A moça era um verdadeiro encanto. Só que depois de algum tempo seu noivo não parecia mais entusiasmado, e aos poucos, foi se distanciando e deixando-a de lado, mas o compromisso ainda existia, pois palavra é palavra e naquele tempo valia. Foi então que, caminhando um dia pelo campo, sem compromisso e sem o que fazer, José deu-se pelo espanto! Não acreditava no que seus olhos viam, pois parecia miragem, cabelos longos e pretos, sorriso meigo e angelical. Ele perdera a voz, suas pernas tremiam, não havia o que fazer naquele momento, pois o cupido lhe acertara a seta fatal. José se apaixonou por essa moça, e ela por ele. E passaram a se encontrar todos os dias pelos campos, e o amor foi ficando cada vez maior. Acaso, destino, o que dizer? O amor é assim um estralo, é faísca que causa combustão, não se pode negar, nem maldizer, nem tão pouco arrancar do peito o coração. Rumores pela cidade se ouviam e também os ouviu Eleotério Miranda. Chamou José, que contra a parede fora colocado, e não tinha como correr, pois o Schidt West estava do lado. Ele até tentou argumentar, mas Eleotério queria o casamento, e sua filha não seria desonrada, já que José deu sua palavra e naquele tempo valia. Saiu ele desconsolado, sem saber o que fazer com tal situação, mas sabia aonde ir, porque era guiado pela paixão. Encontrou-se com sua amada, que explicou que com o romance seu pai também não concordava. Abílio Ferreira Martins sempre dizia que não tinha posses mas tinha nome, tinha palavra, e isso sim era respeitado era coisa de homem.
É! Destino mau trapo, traiçoeiro, dá com uma mão e com a outra leva, nessas ondas da vida insensata, que alguns nós acocha e a outros desata, pensava José angustiado em uma solução. E achou! Assim ele refletia:
_ Não posso com Rita casar, isso seria a morte, pois amo outra, se me caso por amor também morro, pois dei minha palavra, não me resta alternativa senão daqui picar a mula.
Combinou com seu amor de na primeira badalada do sino da igreja fugir, e assim o fizeram.
José contou com a ajuda de seu grande amigo Tertuliano, que havia acabado de comprar um Aero Willys último modelo naquele ano. Pegou seu bem mais precioso e foi para São Paulo.
José estava tão feliz que não ligava para mais nada, agora tinha Rosa Martisn de Melo. Mesmo que fosse uma Rosa roubada.