Dez dias antes do Natal, a irmandade de seis chefiada por meu irmão , mas não o primogênito, começava os preparativos do ambiente natalino.
Passo 1: Garimpar o musgo que crescia nos muros, calçadas, jardins e pedras da rua. Sem ele não havia presépio, portanto, achá-lo era de primeira categoria e grande empenho. Cada um com seu pedaço de papel íamos colocando o musgo retirado que devidamente transportado virava o chão de Jerusalém.
Passo 2: Envolvia os sacos de linhagem que a minha mãe usava para limpar o chão. Depois de alvejados, meu irmão imergia em tinta marrom e logo depois em goma feita de maizena. Expostos ao sol endureciam e se transformavam em montanhas e no teto da gruta que abrigava o Menino Jesus. Mais sacos de linhagem agora mergulhados em tinta azul, mais goma de maizena, e se transformavam no céu do presépio. Nesse momento eu entrava em ação, espalhando purpurina, criando um céu estrelado. Ao término havia purpurina na sala inteira, inclusive no cabelo e nos olhos da menina arteira.
Passo 3: Pegava-se os caixotes pedidos na quitanda da esquina, que devidamente empilhados e colados eram o suporte para toda a cidade de pano.
Passo 4: Presépio pronto com todas as figuras. Aí o meu irmão me dava uma missão especial: colocar os três Reis Magos dentro da gruta no dia 6 de janeiro. Missão seríssima: Para cumpri-la todos os dias aproximava os três reis, centímetro por centímetro até o glorioso dia em que encontravam o Menino Jesus. Magia da infância!