A Casa Vazia
Quando forçou o portão sentiu a fechadura enferrujada ceder, com um som raspado, à pressão dos dedos. O acesso à varanda estava coberto de lixo, dejectos, papéis e uma brisa leve vergava as ervas. Tinha a chave da casa e abriu-a. Dois vidros partidos d e uma das janelas, mantinham o ar respirável. Uma cadeira partida ficara. Do tecto pendíamos fios de onde o lustre italiano fora retirado. Com a luz a declinar lá fora, o som dos passos ecoava mais alto e o todo do salão e dos quartos, cheirava a desinfectante. No que foi o escritório havia caixas com documentos ilegíveis, um pano rasgado e o pó ficava já nas palmas das mãos que afagavam a porta.
Raul pousou a mochila, procurou a cozinha e preparava-se para fazer e tomar lá um café. Não havia fogão e as paredes disseram-lhe onde houve armários, pratos de louça do Redondo que recordara ter visto dispostos, sem gosto, pela Avó. A casa continuava à venda mas ninguém a queria, tão isolada estava no lugar mais ermo da aldeia.
- vi-o passar, Raul. Sabia que aqui não poderia ficar por estar a casa vazia, disse baixando a lanterna já acesa. Fiz um caldo e tenho queijo. Fique na minha casa o tempo que quiser. Se gostar, passa aqui umas férias, convido-o. Agora que voltei a ser sozinha estou igual a esta moradia. Espaçosa, vazia, muito vazia…