Um Sonho de Amor

Tive uma noite agitada. Acordei assustada de um sonho. Fiquei quieta relembrando e tentando entender. Nem sei se foi um sonho ou um pesadelo. Nunca havia sonhado com Felipe. E neste sonho ele chegou em minha casa. Estava muito triste, dizia que nunca foi feliz e que nunca me esqueceu. Com toda a sua capacidade de convencimento pedia que eu desse uma chance pra nós dois. Conversamos e eu disse que sofri muito por ele e que não queria passar por tudo isto novamente. Pedi que ele fosse embora. Ele chorando me abraçou e disse que tudo seria diferente desta vez. Eu tentava me afastar dele, mas ele me apertava em seus braços e eu não conseguia me libertar. Eu me sentia tensa e num grito, acordei.

Eu conheci aquele homem há muitos anos. Eu tinha dezenove anos e ele vinte e cinco. Eu me apaixonei perdidamente por Felipe e ele também se mostrava apaixonado por mim.

Ele era encantador, falava de coisas que eu ainda não conhecia. Ele era da capital e estava ali a trabalho. Era um homem experiente. Eu era daquela cidade do interior, bobina e inexperiente. Eu estava começando meu curso universitário e ele já tinha se graduado.

Vivemos por dois anos uma paixão muito intensa. Cheia de altos e baixos. Muitas vezes nos ofendemos por ciúme. Ele era cheio de traumas e sempre falava por enigmas. Muitas vezes eu não conseguia entendê-lo bem. Eu era cheia de dúvidas e medos e ele cobrava mais segurança, uma segurança que eu não tinha naquela época.

Meus amigos não conseguiam entender aquele romance, não entendiam como eu aceitava tantos altos e baixos e tantas brigas e voltas. Muitas vezes ele sumia por alguns dias, muitas vezes eu o via conversando com outras garotas. E isto me deixava pra morrer de tanto ciúme e tristeza.

Aos poucos fomos nos afastando até que chegou o dia em que nos separamos definitivamente. Tantas mágoas me fizeram desgostar dele.

Tive outros namorados e ele sempre tentava me provocar, tentava me reconquistar. Mas eu não queria. Até que por fim ele foi embora da cidade e eu nunca mais o ví. Mas muitas vezes ele voltava ao meu pensamento, principalmente quando tinha alguma desilusão com algum namorado.

Anos depois eu me casei. Tive uma vida tranquila e raramente eu me lembrava de Felipe. Dez anos depois meu casamento chegou ao fim.

E quando eu estava divorciada há dois anos, Felipe me volta em um sonho tenso e estranho

Por muitos dias fiquei pensando naquele sonho.

Procurei saber notícias dele. Pesquisei, tentei saber se ainda trabalhava na mesma empresa. E lá estava ele. No dia do seu aniversário, eu lhe passei uma mensagem carinhosa por e-mail. Os dias se passavam e ele nem me respondeu.

No entanto todas as lembranças daquela tórrida paixão voltaram à minha memória.

Mas eu não tinha coragem de mandar outras mensagens. Não queria me sentir humilhada e desprezada novamente.

Quando eu menos esperava, um dia meu telefone tocou. Eu atendi e a voz do outro lado me fez tremer. Era a inconfundível voz dele. Eu nem sabia o que falar. Era como se aquela voz acariciasse meu ouvido e eu estava paralisada.

Ele falou comigo como se quase vinte anos não tivessem passado desde o nosso último papo.

Agradeceu a mensagem de aniversário e me chamou pra almoçar com ele “qualquer dia destes”.

Por muitos dias eu pensei se aceitaria aquele convite tão informal ou se devia esquecer de vez aquele sonho e aquele assunto.

Por fim eu resolvi aceitar o convite. Liguei pra ele e marcamos.

Quando nos vimos, não parecia que estivemos separados por tanto tempo. Ele me abraçou e eu me deixei levar. Aquela mesma paixão e atração que sentíamos voltou como por encanto.

Passamos longas horas juntos. Contamos sobre nossas vidas. Ele também estava divorciado. Agora éramos ambos adultos e então podíamos conversar de igual pra igual.

Foram horas encantadoras que passamos juntos. No fim nos despedimos com um beijo e foi como um sonho. Eu estava me sentindo uma adolescente apaixonada.

Passamos a nos encontrar com frequência, na minha casa ou na dele. Vivíamos momentos de intenso envolvimento e prazer. Eu estava completamente apaixonada e tinha certeza que ele também estava.

Por dois anos vivemos este caso de amor inebriante e encantador. Ele me parecia um outro homem. Mais centrado, mais tranquilo e se entregava totalmente àquela paixão. Eu também estava segura do que queria e não me furtava a me entregar de corpo e alma.

Numa noite, estávamos juntos, deitados e abraçados, curtindo aquele momento de intimidade. Do nada ele perguntou se eu queria me casar com ele. Acho que naquele momento eu não lhe negaria nada. E muito segura, eu respondi que sim.

Comemoramos a nossa decisão calorosamente.

Nós nos casamos numa cerimônia cheia de pompa e circunstância. Foi uma linda festa. Estávamos muito felizes e realizados. Fizemos uma linda viagem de lua de mel. Tudo parecia um sonho.

Voltamos pra nossa casa e nossa vida era só amor e carinho. Por anos vivemos uma constante lua de mel. Quando não estávamos trabalhando estávamos juntos. Tudo era gostoso com ele: conversar, passear, cozinhar, nossas brincadeiras. Líamos ou ouvíamos música juntos. E nossos momentos de amor e prazer nos arrebatava completamente.

Mas o tempo foi passando e nossas diferenças começaram a aparecer, nossos defeitos e incompatibilidades foram minando nossa relação. Por fim nossas brigas começaram com agressões verbais, que não deveriam acontecer nunca. Mas sempre depois de uma briga, a gente se reconciliava e se entregava ao nosso amor e se amava apaixonadamente.

Alguns anos depois o nosso casamento chegou a uma situação insustentável. Não havia mais respeito e até o nosso amor chegou ao fim.

Aprendemos de forma dolorosa que só amor e atração física não sustentam um casamento. É preciso também afinidade, bom senso, boa vontade. É preciso renúncia e compreensão. Havia entre nós muitas incompatibilidades que com o tempo nos incomodavam sobremaneira. Chegou a um ponto em que não suportávamos nossos defeitos. Qualquer palavra ou olhar atravessado era motivo pra começar uma discussão que terminava em ofensa. O amor, a paixão deram lugar à uma raiva que não podia ser contida.

Decidimos nos separar. Conversamos muito e terminamos aquele casamento de maneira, de certa forma, civilizada. Cada um seguiu sua vida. Nunca mais nos falamos.

Mas eu não me arrependo de ter dado ouvidos àquele sonho e de ter procurado por ele.

Vivemos momentos maravilhosos. Tivemos uma convivência de muito amor, paixão e prazer por alguns anos e isto valeu por uma vida.

Sobretudo resolvemos aquele amor que nos sufocava e que volta e meia estava em nossas cabeças como algo que precisava ser vivido e terminado.

E assim foi. Vivemos aquele amor, terminamos nosso casamento e nossa paixão.

E hoje estamos livres para novos sonhos, novos amores, novas emoções. E a vida segue…

Nádia Gonçalves
Enviado por Nádia Gonçalves em 28/11/2021
Reeditado em 29/11/2021
Código do texto: T7395904
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